Quando era miúdo, lembro-me – claro que me lembro, pois essa criança ainda vive em mim – que o meu pai, como tantos outros, proibia-me de jogar à bola.
Fazer umas futeboladas na rua sim, mas nada de mais sério.
E o mais sério começava por ser a participação num qualquer treino de captação que os clubes organizavam para os jovens aspirantes a futebolistas.
Nessa altura, ser futebolista não era profissão, era uma brincadeira e só servia para distrair das verdadeiras prioridades da vida: estudar, tirar um curso e arranjar emprego para a vida.
Mas os tempos mudam e as vontades também. Os cursos deixaram de garantir empregos, os empregos já não eram eternos e, acima de tudo, o futebol começou a gerar milhões.
Foi então que os pais passaram a incentivar os filhos, ofereceram-lhes equipamentos completos e até os começaram a levar, com as devidas comodidades, aos treinos do clube mais próximo (muitos por troca com a escola).
Todos queriam ter em casa o novo Eusébio ou o novo Maradona e, com isso salvaguardar o futuro. Deles e dos filhos.
Mas no futebol, como em tudo na vida, só vingam os melhores e, no processo, perdeu-se muita gente que abdicou de estudar, desperdiçou oportunidades e falhou no sonho de ser um jogador mundialmente reconhecido. Ou melhor, um jogador principescamente remunerado.
Mas o processo – devidamente alicerçado numa comunicação social sedenta de novos ídolos – não parou e, hoje, os clubes já contratam pequenas vedetas de 12/13 anos e falam mesmo em descobrir o novo Cristiano Ronaldo. “O novo Cristiano Ronaldo” imagine-se! Já se fala em descobrir a nova versão de um jogador que tem apenas... 24 anos! Sinceramente não sei quem estava certo, se o meu pai super-protector, se os outros super-liberais.
Mas a virtude talvez esteja no meio. Como quase sempre.
* Luís Milhano, tem 42 anos, é formado em Antropologia e ocupa o cargo de editor-executivo do diário desportivo “Record”. Foi professor do ensino secundário antes de iniciar a carreira de jornalista no Diário de Notícias.
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