terça-feira, 30 de março de 2010

Olha que boa ideia...


Esta semana o Bebé está em "modo Páscoa".
E porque as crianças estão de férias, aqui ficam ideias, simples e giras, para pais e meninos fazerem juntos.

A primeira é de cortar, colar e pendurar. Figurinhas da Páscoa para todos os gostos.

Aqui e aqui.

E mais ideias gratuitas do Toy Maker.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Post útil número 1: lista de roupa para recém-nascido

*Por Inês Diogo

• 6 bodies interiores (os de trespasse são mais fáceis de vestir e mais confortáveis para o bebé)

• 6 calcinhas com pé (para vestir por baixo dos cueiros ou dos babygrows, mas apenas se for Inverno)

• 6 camisas

• 4 conjuntos confortáveis camisola+calça

• 4 casacos (de lã ou algodão conforme a estação do ano)

• 2 conjuntos (calças, camisola e casaco ou vestido e casaco)

• 1 Touca ou um Gorro (de lã ou algodão conforme a estação do ano)

• 6 Babygrows (se apenas os usar durante a noite, como pijamas; deverão ser mais se também preferir esta peça de roupa para usar durante o dia)

• 6 Pares de Meias (devem calçar-se por baixo das calças com pé ou dos babygrows, quando o tempo está mais frio)

• 4 Pares de Botinhas de lã (no Inverno) ou de algodão (no Verão).

• 1 casaco grosso (apenas no Inverno)

• 2 mantinhas

• 2 envoltas

• 10 babetes pequeno (para quando se começam a babar ou bolsar)

• 15 fraldas de pano

Nota importante:

Antes de vestir qualquer roupa ao bebé, lave-a muito bem com detergente próprio para bébé e passe com o ferro quente, mesmo que as roupas lhe pareçam novas e limpas. Este cuidado é muito importante para prevenir alergias e/ou outras complicações que podem surgir devido a fungos e/ou bactérias presentes em roupas não-cuidadas. Os mesmos cuidados devem ser tomados também para roupas e acessórios de cama e banho do bebé!

*Inês Diogo é gestora e mãe de dois filhos

quarta-feira, 24 de março de 2010

Perguntas a que um pediatra não deve mesmo responder. (work in progress)


Georg Baselitz





Quando tiveram um filho abriu-se um novo capítulo da sua vida. É como se fosse dia um de Janeiro ou dia um de uma nova vida. Do bebé e deles. Esta criança nova vai cumprir as esperanças desencontradas dos pais. Cada um deles traz dois guiões. Um espontâneo, criado ao longo dos anos. O guião de mãe, construído a partir da identificação profunda com a própria mãe, a mãe real e a mãe ideal. E um guião correcto, o guião do pai e da mãe que todos queremos ser, os pais que fazem as coisas certas, no momento adequado.
O guião correcto está continuamente a ser escrito por todos os que, desde o dr. Spock, querem construir um mundo melhor com gente ilustrada. O pediatra está nesse grupo de gente. O pediatra maître a penser. Aquele a quem se pergunta tudo e a tudo responde. A posição no berço, a cadeira de transporte, a temperatura do quarto, o horário da mamada, a marca do aspirador lácteo, as gotas para as cólicas, as vitaminas, o trajecto do passeio diário.
O pediatra maître a penser gosta que lhe perguntem. Esquece-se de dizer que, na maior parte das vezes, não há evidência científica por detrás dos seu conselhos. Que as suas opiniões se baseiam na experiência individual, na opinião de peritos ou nas práticas da puericultura erigidas em saber científico.
Apesar de ser assim e assim ser apreciado, há perguntas a que um pediatra não deve nunca, mas mesmo nunca , responder. Juntámos algumas, para reflexão dos maitres a penser e dos que, a perguntar, lhes acariciam o ego.

- De que cor vão ser os olhos?
Perguntam na primeira consulta, ou na segunda, inevitavelmente. Pergunta geralmente o pai, na indagação inconsciente de sinais de paternidade. Ou pergunta a avó paterna, por procuração. A resposta popular é :
- Mais escuros, que esta cor ainda é a do leite.
A resposta do pediatra maître a penser é:
- Mais escuros, dependendo dos depósitos de melanina na íris.
A resposta do pediatra moderno é dar o endereço do site Techtech, que ensina a calcular a cor dos olhos a partir dos genes gey e bey 2, que controlam o depósito de melanina (http://museum.thetech.org/ugenetics/eyeCalc/eyecalculator.html).
A resposta eficiente é:
- Vai ter olhos como o pai.
Fortalece a vinculação paterna e é um serviço prestado a todos.
Mas o melhor a fazer é nunca, mesmo nunca, responder.



- Em que idade pode ir à piscina?
À piscina. À pissina (Viseu). À pexina ( Santarém). À pes - sina (Coimbra).
Pode ir quando quiser. Pode até nascer na piscina, em qualquer dos estilos olimpícos, de preferência com uma parteira em escafandro, com treino em suporte avançado de vida. Pode nascer e exibir aos convidados a natação automática, o diving reflex e fazer o contacto pele com pele, na versão húmida. Pode ir para a piscina em qualquer idade, com fralda estanque da Dodot, a fralda-piscina da Dodot. E ir com a avó à hidroginástica e o avô ao tanque da reabilitação. Pode responder o que quiser, que está sempre certo e de acordo com a mais moderna investigação.
Mas o melhor é nunca, mesmo nunca, responder.



- Para as cólicas dou o Simeticone ou o Dimeticone?
As gotas inglesas são melhores, claro. Vêm de Inglaterra, onde os bebés não têm cólicas desde o banimento de Lady Chatterley. Foram aconselhadas por um amigo que trabalha na Sonae e por um pediatra maitre a penser. Em relação à cólica do lactente a resposta adequada é dizer que se ignoram intervenções mais eficazes que os chás da herbanária.
Mas o melhor é nunca, mesmo nunca, responder.

A seguir: Pode ter um gato? Quando deve ir para o infantário? Como fazer a higiene do nariz? E se fosse seu filho?

E agora, senhores?

Por João Paulo Batalha*


Estive recentemente em Lagos, onde a Associação de Gestores Culturais do Algarve organizou um seminário sobre Serviços Educativos em Espaços Culturais. Foi uma oportunidade para programadores, técnicos e especialistas em serviços educativos de todo o país pensarem o futuro dos nossos espaços culturais – e, entre outros temas, discutir qual é o lugar das crianças nestes espaços.


As boas notícias: há uma nova geração de gente da cultura farta de museus feitos de vitrinas fechadas. Os nossos espaços culturais têm de ser casas abertas à comunidade, onde as pessoas vêm para ver mas também para participar, para discutir, para construir.


Como muito bem nos mostrou David Anderson, director do centro de aprendizagens do Victoria & Albert Museum de Londres, as pessoas vão aos museus à procura de experiências educativas, sim, mas que sejam acima de tudo divertidas para toda a família. “A qualidade da experiência conta!”, foi o que ele nos disse.


Ficámos a conhecer imensos bons exemplos nacionais (na Gulbenkian, em Serralves, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e em sítios tão improváveis como o Mosteiro de Tibães, em Braga). Pouco a pouco, com enorme dedicação e criatividade, há gente dinâmica a soprar nova vida nos nossos espaços culturais. A criar experiências que merecem ser vividas.

E cada vez mais as crianças deixam de ser aquele público que vem por acréscimo e para quem lá se organizam uns ateliers para as manter entretidas. Cada vez mais fazem parte da visita, fazem parte do museu, cada vez mais arregaçam as mangas e participam, aprendem. E ensinam-nos a fazer melhores museus, a criar melhores experiências.

Agora as más notícias: quando existem, os serviços educativos são quase sempre departamentos menores dentro dos centros culturais, onde se vão fazendo alguns ateliers colados à programação do dia. Falta-lhes autonomia, faltam-lhes recursos e, muitas vezes, apesar de toda a boa-vontade (e há muita!), falta-lhes gente com formação à altura. Precisam da imaginação e da exigência dos pais, das famílias e das crianças. Estão à espera de ser desafiados!

Deste seminário saiu a vontade de transformar os serviços educativos em espaços permanentes de contacto com o público – e em particular com as crianças. Não só para lhes falar, mas para as ouvir. Para deixar que elas criem connosco os museus e as salas de espectáculos que queremos ter. As coisas estão a mudar e é tão bom constatar isso! Mas cabe-nos a nós, público, a obrigação de sermos sedentos, de procurarmos mais e de exigirmos melhor. De bebermos o que aí há e não demorarmos a perguntar a programadores, gestores culturais e patrocinadores: E agora, senhores?


*Formado em História, João Paulo Batalha é jornalista e fundador da Storymakers, uma empresa dedicada à produção de exposições, eventos e produtos culturais para crianças.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Cada vez menos crianças

*Por José Miguel Roque Martins

Nas sociedades ditas mais evoluídas, tem-se verificado uma tendência estatística: O número de filhos diminui com o aumento do rendimento das famílias.

Ou seja, a acreditar numa relação de causa efeito, então estamos perante uma situação em que as Crianças se assemelham ao que os economistas chamam de "Bens de Giften", categoria, aliás muito restrita.

Esses bens, também chamados de inferiores, são aqueles em que, quando o rendimento diminui, o consumo aumenta, não por uma questão de escolha, mas por uma questão de necessidade. Ou inversamente, em que o consumo diminui quando o rendimento aumenta, porque já não há a necessidade de os consumir, preferindo-se, então, outros tipos de bens.

Pessoalmente, tenho esperança de que a realidade nada tenha a ver com esta explicação.

Uma das outras explicações alternativas para este fenómeno, poderá ter a ver com uma sociedade, de tal forma exigente, que arrasa Pais, conscientes de serem incapazes de assumirem os deveres afectivos de uma família numerosa.

Independentemente da real explicação, o resultado significa basicamente o envelhecimento da população e com ela a inversão da pirâmide etária. E com esta inversão a falência generalizada, por todo o mundo ocidental, dos sistemas de previdência social.

De forma estranha, parece que o desenvolvimento económico traz, em si, a génese da sua própria extinção, para além da destruição dos modelos de equilíbrio.

Dá que pensar.

* José Miguel Roque Martins, pai e economista.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Feliz Dia, Pai.

Post colectivo escrito por  filhos, filhas e pais*



Ser pai é ser um herói sem capa todos os dias e todas as noites.

Acordar bem disposto...E ter um coração azul com braços fortes e generosos.

É olhar sempre por nós... Mesmo que seja de longe...

Ninguém sabe ser pai, mas para que os filhos não se apercebam, os pais aprendem todos os dias a sê-lo: estudando à noite, às escondidas, as lições do coração.

Depois sentam-se no chão e brincam com os filhos, sujam a cara e mãos sem se importarem com isso, cantam na rua sem querer saber se alguém ouve, só porque isso faz os filhos rir de alegria.

(Vamos tentar conseguir brincar na rua ............... os nossos pais brincaram e contam-nos como foram felizes).

Ser pai é aprender a dar tudo… e a não esperar nada em troca.

É acordar a meio da noite para ver se estão cobertos e não apanham frio e ajudar...

É fazer que está tudo bem mesmo quando não está. Ser sólido e fiável e tranquilizador, ser clássico como nos ensinaram que tinha de ser - mas ser também um miúdo entre os miúdos, como nos ensinaram que não podia ser! É ter juízo e, de vez em quando, deixar de o ter.

Ser pai... É sonhar com eles, como eles e para eles. É sonhar acordado e dormir pronto a erguer-se por eles!

É amá-los como só o próprio amor de um pai permite amar. Ser pai é estar pronto e sempre alerta a toda a hora, a todo o minuto e saber que, a qualquer momento, é preciso voltar a ser criança, e deixar-se ir, como a suave brisa que lhes toca o rosto miudinho, sorridente, numa qualquer perfeita manhã de primavera!

Ser pai é ser criança, por eles... Eles, os meus bebés.

É Amar, É Aconchegar, É Mimar e estar sempre lá... seja para enxugar a lágrima ou para rebolar no chão à gargalhada. Ser Pai é Orgulho... É amar incondicionalmente!

É vestir a pele dos nosso heróis imaginários em brincadeiras mil, defender-nos dos "maus" e ser o "bom" sempre que precisamos, ser o príncipe encantado, o aconchego dos nossos receios.

É ser o mestre na vida de um filho… É saber dizer não, mesmo quando os olhinhos deles nos tentam dar a volta.

E... é também tomar conta da mãe e assim permitir-lhe tomar melhor conta do bebé!

É surpreender com programas especiais como: levar os filhos ao estádio do Benfica, depois à loja do Benfica, e ao Colombo comprar mais um jogo para a psp ou ps2 e ficam felizes da vida (além de todo o Amor e dedicação), porque ser pai , também é fazer coisas que eles não fazem com as mães, e devemos proporcionar-lhes esse tempo!!

Ser pai é dizer com voz tranquila: "não te preocupes com os sonhos menos bons, o bicho papão, os monstros das sombras que saem do armário ou debaixo da cama. O pai trata da saúde deles todos!" E abraçar-nos junto ao peito...

Feliz Dia, Pai.



*Obrigado Sofia, Maria, Alexandra, Célia, Joana, Constança, Inês, Fátima, Maria João, João Paulo, Carlos, Marina, Lurdes, Susana Lopes e Susana Reis, Stella, Rita, Patrícia e Helena.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Post Maratona Dia do Pai


Aqui ao lado mais uma ilustração linda do Ricardo.

As efemérides esgotam as palavras e fica-se com a sensação de que tudo já foi dito. Será?

Em véspera do Dia do Pai, O Bebé Filósofo quer preparar o texto nunca escrito, para publicar amanhã.

Lança então o Post Maratona que decorre hoje na página do Facebook do Bebé Filósofo.

Para quem é pai, mas não só. Para quem é filho também. Ou seja, para todos.

A ideia é agarrar nas palavras anteriores e continuar a escrever, deixando em aberto para o próximo.


O resultado será um patchwork de ideias sobre "Ser pai" que publicaremos orgulhosamente aqui.

Vamos embora?
O Bebé Filósofo Divulga também a tua página

quarta-feira, 17 de março de 2010

Investir no futuro: viver mais e melhor!

Por Graciete Bragança*



As doenças relacionadas com a alimentação, como a obesidade, a diabetes, as doenças cardiovasculares e o cancro, têm vindo a revelar-se das principais causas de morte nos países ditos civilizados. Mas estas doenças podem em grande parte ser evitadas se adoptarmos estilos de vida saudáveis, nomeadamente uma alimentação equilibrada e actividade física regular.

As modificações no meio ambiente e no modo de vida são tão profundas que não podemos pensar em voltar ao tempo dos nossos bisavós e comer os legumes da horta e as galinhas criadas no quintal. Mas podemos, em vez de passar o fim de semana a ver televisão ou fechados no centro comercial, aproveitar para fazer uma caminhada em família ou ir para a rua jogar à bola com os nossos filhos…

É nosso dever de pais e educadores desenvolver todos os esforços para que os nossos filhos cresçam segundo o lema “ Mente sã em corpo são”. Para isso temos de promover o seu bem estar, protegê-los da doença, transmitir-lhes o gosto pelos princípios de vida saudável e formá-los para que um dia possam eles próprios fazer autonomamente as escolhas mais equilibradas. Mas não se esqueça que dar o exemplo é a forma mais eficaz de educar, por isso, questione os seus próprios hábitos e comece a mudança em si mesmo.

Se quer que o seu filho viva mais e melhor, não esqueça estas 10 Regras de Ouro:

1. Faça os possíveis para que o seu filho se alimente exclusivamente de leite materno durante os primeiros 6 meses de vida e prolongue o aleitamento materno o máximo que puder.
O aleitamento materno diminui o risco de obesidade e alergias.
Os leites de substituição aumentam o risco de doenças crónicas

2. Não adicione sal ou açúcar à alimentação do seu filho no primeiro ano de vida e depois eduque o seu paladar de forma a consumir sempre pouco sal. O consumo de sal no primeiro ano de vida aumenta o risco de doença cardiovascular nomeadamente AVC na idade adulta.

3. Zele para que o seu filho tenha uma alimentação saudável, em casa, no infantário e na escola.
Não sair de casa sem tomar o pequeno almoço - evitar tomá-lo no café da esquina. Fraccionar as refeições ao longo do dia. Comer tranquilamente e mastigar bem os alimentos. Evitar concursos do género "vamos ver quem acaba primeiro". Respeitar o horário das refeições e o ritmo da criança. Acompanhar as refeições com saladas cruas ou legumes cozinhados.Preferir as gorduras vegetais às gorduras de origem animal.

Limitar o consumo de alimentos pré-confeccionados e snacks.
Limitar o consumo de refrigerantes: eleja a água como bebida de excelência.
Fazer do “doce” uma prática de dia de festa e não diária.

4. Esteja atento para que o seu filho tenha espaços e tempos de lazer, onde possa caminhar, dançar, jogar à bola, andar de bicicleta, correr... Actividades de tempos livres e passeios em família. O exercício físico regular previne a obesidade e melhora o perfil lipídico (gorduras no sangue).
A actividade física deve ser um prazer e não uma obrigação.

5. O tempo em frente à televisão ou ao computador não deve exceder as 2 horas por dia. O sedentarismo é um dos factores de risco para a obesidade.


6. Evite que o seu filho seja um fumador passivo e comece logo que possível a alertá-lo para os perigos do tabaco. Não exponha o seu filho a ambientes nocivos. Ensine o seu filho a apreciar e a preservar o meio ambiente.

7. Esteja atento aos quilos extra – pequenas modificações numa idade precoce podem evitar grandes males futuros. Se o peso for excessivo a saúde corre perigo.

8. Se na sua família há casos de hipertensão arterial, dislipidémia (aumento do colesterol ou dos triglicéridos), diabetes ou acidentes isquémicos (enfartes, tromboses..), o risco de o seu filho vir a ter uma destas doenças é maior e portanto não descure os exames médicos de rotina. A prevenção e o tratamento atempado salvam vidas!

9. Cuidado com o sol: use protector solar. O sol em excesso é prejudicial mas fugir dele diminui a produção de vitamina D, essencial para o desenvolvimento dos ossos e sistema nervoso. Evite o Sol durante as horas mais quentes do dia, entre as 11 e as 17, e aplique frequentemente protector solar.

Até aos 6 meses, não leve os bebés à praia e, até um ano, evite a sua exposição directa ao Sol.

10. Alerte o seu filho sobre os perigos do álcool e comportamentos de risco.

* Graciete Bragança é pediatra, especialista em Endocrinologia.

terça-feira, 16 de março de 2010

Vínculo

Ele nasceu. E quando o encostaram a mim, ele abriu a mãozinha e encostou-a em cima do meu olho, como quem diz “Cheguei. Podes descansar”.

Nos dias seguintes, as enfermeiras da maternidade entravam no quarto para o encontrarem quase sempre ao colo. “Ai que esse bebé vai ficar tão estragadinho”, vaticinavam. Eu respondia “Não se preocupe que ele vai comigo, não o deixo cá”. Elas sorriam, a pensar “coitadinha nem sabe no que se está a meter…”.

Mas eu sabia. Sabia sim.

Na minha segunda gravidez tudo se passou a correr. Não tive muito tempo para grandes contemplações ou festinhas na barriga. Passei o tempo a correr, a trabalhar, a cuidar da mais velha. Orgulhosa por estar a dar conta de tudo. Sem mãos e pés inchados. Sem o “andar à pinguim” das grávidas de fim de tempo. A dar colo à minha filha até ao final. A ter reuniões e a mandar mails urgentes. Gravidez não é doença e lá andava eu com uma barriga gigante, orgulhosamente (hiper)activa.

Quando dei por mim na recta final, enviada à pressa para casa porque o líquido amniótico tinha desaparecido e o bebé não estaria a crescer como se esperava, senti-me uma bomba relógio. Pedia ao bebé que nascesse se não estivesse bem. Bebi litros de chá de canela e folha de framboesa, experimentei pontos de acupunctura e posições de yoga para o convencer a sair para o mundo, já que o mundo que ele conhecia até então poderia não estar a dar-lhe o que ele precisava.

Ele, horrorizado, trepava por mim acima e encaixava-se-me debaixo das costelas, o mais longe que conseguia da porta de saída. Li na altura que os bebés tendem a subir quando se sentem inseguros, aninham-se do lado esquerdo onde está o coração da mãe. Parece que nos rapazes é mais frequente, (o que até pode explicar muita coisa).

Já eu, desesperava. Afogada num baby blues prematuro e irremediável, passava o dia a chorar. Não. Minto. Não passava o dia só a chorar. Passava-o também a ver o vídeo em que a mãe do Dumbo, enclausurada porque teve um acesso de fúria ao defender o seu bebé das orelhas grandes, o embalava como conseguia, tromba através das grades, enquanto o pequenino chorava. De cortar o coração, eu sei. Na altura, estranhamente, parecia-me a solução óbvia. Passar os meus dias a ver este filme. Era tudo o que eu podia fazer.

Ainda na barriga prometi-lhe que quando nascesse eu iria ser assim. Uma mãe em estado selvagem, a defender a cria, a dar-lhe colo a todas as horas do dia. Teria mama quando quisesse, alguém para lhe velar as cólicas e os sonos trocados, sempre com um sorriso e paciência, tanto quanto possível, sem desesperar de cansaço. Seria um bebé de ouro, cujos pezinhos só tocariam o chão quando ele quisesse, porque até lá seria transportado ao colo.

Eu, a mãe macaca. Ele, o bebé filhote.

Primitivos e felizes, alheios a uma sociedade que espera que os bebés durmam 7 horas, mamem de três em três (mas acordem a tempo de esbanjar sorrisos para as visitas), cheirem sempre bem e não gritem muito, de preferência.

Na filha número1 ainda houve tentativas para a "domar", habituar às (nossas) rotinas, como se fosse possível fazer de um recém-nascido um adulto responsável, assim em meia dúzia de dias. Sem sucesso, claro. Não vale a pena lutar contra os bebés. As primeiras semanas são de caos absoluto. Mais valia dizerem-nos logo isso e pronto.  No filho número dois percebi que a solução para nos entendermos com um bebé está na natureza. A minha costela revolucionária já me devia ter ensinado a não procurar validação em manuais de instruções para bebés.

Mas o nosso instinto sai sempre reforçado quando encontramos as nossas estratégias improvisadas de maternidade, impressas em formato livro. Encontrei-o aqui. Diz o pediatra Carlos Gonzalez que os nossos bebés actuais choram porque são os sobreviventes de gerações longínquas, os descendentes de bebés antepassados que choravam a plenos pulmões e assim levavam os adultos a não os deixar sozinhos, mercê de predadores e outras ameaças. O choro do bebé é no fundo a emissão de “sinais de alerta”, sob a única forma de que dispõe. O choro do bebé enerva os adultos, fá-los agir no sentido de o acalmar. É esse o objectivo: fazer-nos agir. No meu caso, perceber a biologia das coisas ajudou-me a superar noites infindáveis a tentar aplacar cólicas e desassossegos. A ter calma. A respirar fundo. A não desesperar. A usar métodos antigos como o embalar, cantar canções de ninar, a embrulhá-lo em mantas apertadas e encostá-lo junto a mim para que o bater do coração que ele tanto procurava dentro de mim o acalmasse cá fora neste mundo que ele não conhecia e onde pela primeira vez encontrava a dor.

No fundo a deixar fluir hormonas. A construir o amor. A transformar este bebé perfeito num filho. O meu filho.

"... é impossível estragar um bebé dando-lhe muita atenção. Estragar significa prejudicá-lo. Estragar uma criança é bater nela, insultá-la, ridicularizá-la, ignorar o seu choro. Contrariamente, dar atenção, dar colo, acariciá-la, consolá-la, falar com ela, beijá-la, sorrir para ela são e sempre foram uma maneira de criá-la bem, não de estragá-la. Não existe nenhuma doença mental causada por um excesso de colo, de carinho, de afagos... Não há ninguém na prisão, ou no hospício, porque recebeu colo demais, ou porque lhe cantaram canções de ninar demais , ou porque os pais deixaram que dormisse com eles. Por outro lado, há, sim, pessoas na prisão ou no hospício porque não tiveram pais, ou porque foram maltratados, abandonados ou desprezados pelos pais. E, contudo, a prevenção dessa doença mental imaginária, o estrago infantil crónico , parece ser a maior preocupação de nossa sociedade."
in "Besame Mucho", Carlos Gonzalez

Fiz há pouco tempo uma tentativa patética de o deixar no infantário. Seria de esperar que, com tanto mimo parental, ele estrebuchasse, estranhasse, recusasse. Mas não. O meu bebé estende os braços para qualquer colo e não recusa ninguém. Não "estranha", embora esteja supostamente na idade de o fazer. Também na escola ficou sossegado, entretido a olhar os brinquedos, a educadora, os outros bebés. O meu bebé de ouro é, para os outros, um bebé banal. E é bom que assim seja, ajuda a equilibrar as perspectivas.

Eu, do lado de fora, contive-me o mais que pude. A vontade de usar a tromba de elefante para partir o vidro e embalá-lo foi quase mais forte que eu. Voltei a olhar. Ele estava bem. Nitidamente melhor integrado do que eu. Recolhi a tromba e saí de mansinho.

No caminho ocorreu-me.
Os bebés de coração cheio, não têm medo de voar. Mesmo que tenham orelhas grandes.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O desafio do limite na criança opositora

Por Ana Rita Monteiro*

Agora as crianças gostam de luxo. Têm maus modos, desprezam a autoridade, não mostram respeito pelos mais velhos e adoram incomodar. Já não se levantam quando entram pessoas mais velhas. Contradizem os pais, comem guloseimas à mesa e são tiranos com os professores.

Esta citação podia certamente ser contemporânea, no entanto permite-nos uma viagem até Séc. V a.C., aos pensamentos do filósofo Sócrates.


De facto hoje sabemos que a criança, por volta dos 3 anos, procurar nos seus cuidadores o limite do seu comportamento como que isso lhe pudesse construir uma vida emocional estável com pilares sólidos e estruturantes. A regra surge na contingência à necessidade da criança saber até onde poderá ir no relacionamento com os seus pais e generalizando posteriormente com todos os outros. A autonomia da criança bem como o sentido de liberdade só poderão ser construídos se o significado dos limites for conhecido.

As birras são uma manifestação que caracteriza um desenvolvimento psico-afectivo normal permitindo à criança afirmar a sua personalidade. Assim sendo o desafio do limite é uma expressão saudável da necessidade de independência e autonomia da criança. Nesta fase é primordial a presença de um cuidador, habitualmente os pais, que contenham, espelhem e devolvam a acção da criança, de modo que se processe a sua individualização. É frequente os pais referirem que a fase das birras passou rapidamente uma vez que sempre que o filho gritava e esperneava eles faziam exactamente o mesmo. A observação deste comportamento era suficiente para que a birra conhecesse o seu fim. Frequentemente os cuidadores questionam os profissionais de saúde acerca das melhores estratégias para lidar com as birras de forma equilibrada, isto é, permitindo a afirmação da individualidade da criança mas assegurando que não se tornam pequenos tiranos.

Devemos recordar o significado de autoridade que frequentemente é confundido como o de autoritarismo. Autoridade significa aumentar, fazer crescer, ajudar a ser mais e melhor. É necessário clarificar junto dos pais a importância do seu papel na construção de adultos seguros e felizes. A Sociedade Espanhola de Psiquiatria Infantil recomenda uma educação orientada em torno dos 3C. Coerência, consistência e continuidade. É importante ter sempre o mesmo critério na decisão daquilo que a criança pode ou não fazer; o não uma vez dito não poderá transformar-se num sim e por último manter a coerência e consistência de forma permanente.

Ainda relevante será sempre o exemplo dos pais…


 
Ana Rita Monteiro é Psicóloga Clínica, Formadora em Desenvolvimento Infantil da ARS Norte e Instrutora de Massagem Infantil pela IAIM (International Association of Infant Massage)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Conversar desde o berço

Por Fátima Pinto*

Ser capaz de falar e comunicar, ou usar qualquer outro tipo de linguagem (gestual, corporal ou escrita), é uma necessidade básica para se ser feliz, auto confiante e ter sucesso na vida.


Aprender a falar tem grande influência na comunicação, na aprendizagem e no sucesso escolar. Falar bem melhora a literacia, a auto confiança e a saúde em geral.

Logo após o nascimento, os recém-nascidos estão aptos para a comunicação e, através de estímulos exteriores vão formando o seu universo afectivo, psíquico e cultural. O bebé compreende antes de falar e é capaz, com poucos dias de vida, de distinguir e imitar expressões faciais, possuindo um potencial de linguagem que pode e deve ser estimulado.

Actividade lúdicas de interacção ajudam o desenvolvimento das competências linguísticas e comunicativas e melhoram todo o processo de do desenvolvimento global, quer a nível das actividades do quotidiano e da relação com os pares, descritas como sociais e pessoais, quer a nível da realização e do raciocínio prático, tornando ainda a criança mais saudável, serena e auto confiante.

Falar-lhe sobre tudo, disto e daquilo, falar-lhe do tempo, do que se está a fazer, do que se gosta e pensa, no banho, na refeição, na rua e no supermercado, é potenciar a linguagem dando a possibilidade da imitação nas trocas interpessoais no jogo do agora eu e agora tu.

Os conceitos e códigos sociais podem e devem ser transmitidos muito cedo, bater palmas, dizer adeus, atirar beijinho, Brincar às escondidas, aparecer e desaparecer … o bebé vai associar o gesto à função.

Os pais actuais têm o tempo contado, trabalham todo o dia, moram longe e por isso passam horas nos transportes, a semana é longa mas o dia é curto. Passam pouco tempo com os filhos e sentem culpa e remorso… importa lembrar que pouca quantidade não implica pouca qualidade e por isso o mais importante é aproveitar esse pouco tempo enriquecendo-o com actividades de relacionamento, falando do que se passa nas coisas do dia a dia.

Sobre a criança e a sua actividade criativa Vygotsky diz: “… quanto mais veja, ouça e experimente, quanto mais aprenda e assimile, quanto mais elementos da realidade disponha em sua experiência, tanto mais considerável e produtiva será, como as outras actividades, a actividade da sua imaginação”.

Conversar, ler em conjunto, brincar, são actividades promotoras de um melhor desenvolvimento infantil, proporcionando ainda prazer na família e laços afectivos mais fortes.



Fátima Pinto é pediatra, especialista em Desenvolvimento Infantil.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Os perigos que a nossa cozinha esconde

Por Solange Burri*

Imagem: Getty Images

Actualmente muito se tem falado em segurança alimentar, sobretudo em sistemas aplicados à indústria alimentar, distribuição e restauração. Contudo, a necessidade de prolongar os cuidados dos alimentos, desde que o consumidor os adquire até que os prepara, é importante para assegurar a qualidade do alimento ao ser ingerido e para que não provoque uma intoxicação alimentar. Este facto é tanto mais grave quanto maior for a vulnerabilidade do consumidor em questão sendo que crianças, grávidas, idosos e indivíduos imuno-comprometidos representam grupos de risco onde os cuidados relacionados com a alimentação devem não só respeitar as específicas necessidades nutricionais mas também garantir a sua inocuidade microbiológica.

A cozinha doméstica representa o local doméstico onde decorre a preparação culinária com um movimento contínuo de alimentos crus e congelados, razão pela qual devem ser articulados determinados cuidados para perdurar a qualidade dos alimentos adquiridos e contribuir também para o bem-estar de todos os membros da família.

Assim, na manutenção da sua cozinha, assegure as seguintes condições:

- Lave sempre as mãos antes de começar a preparação culinária;

- Na bancada separe alimentos cozinhados de alimentos crus, evitando o contacto entre si de modo directo ou por meio de utensílios (ex. facas, garfos, tábuas, etc.). Opte pois por manipular os alimentos cozinhados e apenas depois destes manuseie os alimentos crus;

- Assegure um funcionamento eficaz do seu frigorífico e congelador. Evite pois abrir a porta demasiadas vezes bem como sobrelotar a sua capacidade;

- Em nenhum momento armazene no frio os alimentos quentes. Seja para refrigerar ou congelar, os alimentos devem ser previamente arrefecidos permanecendo tapados para impedir recontaminação após o processo culinário;

- Salvaguarde sempre que o receptáculo que reúne o lixo da cozinha se encontra afastado da zona de preparação alimentar e está sempre tapado, impedindo a atracção de insectos que representam veículos de contaminação alimentar;

- Por fim, será importante salvaguardar que o re-aquecimento de um alimento já cozinhado e armazenado é realizado durante tempo suficiente para o aquecer bem e não apenas até estar apto a consumo. Deste modo eliminam-se bactérias que entretanto, durante a armazenagem, tenham conseguido desenvolver-se.

- Nunca descongele alimentos à temperatura ambiente. Faça-o sempre de véspera colocando no frigorífico ou descongelando directamente no micro-ondas.

Estes cuidados devem fazer parte da rotina diária dado que grande parte dos alimentos contaminados com microrganismos patogénicos não evidenciam alteração sensorial capaz de avisar o consumidor que o alimento não se encontra apto para consumo.

Fique pois atento e proteja-se…!

*Solange Burri é Mestre em Inovação Alimentar e Consultora em Alimentação de Grupos de Risco. Assina o blog BabySol® onde dá apoio a Pais e Profissionais sobre a Alimentação de Crianças e Grávidas.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Férias da Páscoa: o que fazer antes de viajar com crianças para regiões tropicais

Por Luís Varandas*


Nos últimos anos, a oportunidade de viajar para regiões tropicais aumentou de forma significativa, consequência, em grande parte, da maior facilidade e comodidade das viagens aéreas. Num curto espaço de tempo percorrem-se de forma confortável grandes distâncias, transportando-nos a locais remotos e exóticos. Por ano, partem da Europa, vários milhões de pessoas, tendo como destino as regiões tropicais. As motivações são várias e incluem o simples turismo, cooperação, trabalho, negócios ou missões humanitárias. As crianças, com frequência, acompanham os adultos. Estudantes adolescentes efectuam viagens em grupo, para férias ou em programas de intercâmbio entre as escolas. Imigrantes regressam aos seus países, para rever familiares e amigos, levando as crianças consigo. Muitos destes grupos de viajantes ficam expostos e em risco de contrair doenças inexistentes, eliminadas ou controladas nos países de origem.



Este incremento do número de viajantes a nível internacional contribuiu para o desenvolvimento, nos últimos anos, da chamada “Medicina das Viagens”. A facilidade em importar e exportar doenças, algumas eliminadas nos países desenvolvidos, mas com ecossistema favorável a nova disseminação, a descrição de casos fatais em turistas, por atraso ou erro de diagnóstico de “doenças tropicais” e a consciencialização de que existem medidas profiláticas para grande parte destas situações, contribuiu, de igual modo, para o impacto que, actualmente, tem a “Medicina das Viagens”.



Como em outras áreas da pediatria, os cuidados à criança que viaja devem enfatizar a identificação de factores de risco e formas de prevenção das doenças e dos acidentes. Isto pode ser conseguido se os pais e as crianças forem informados sobre os comportamentos a adoptar e a evitar. A preparação da viagem das crianças, no que se refere aos cuidados de saúde, deve iniciar-se algumas semanas antes da partida. Estes mantêm-se durante e após a estadia. De facto, após o regresso, a criança pode ser portadora de infecções, ainda, assintomáticas ou pode apresentar sinais e sintomas de doenças, com as quais o seu médico poderá não estar familiarizado.



Ao longo das próximas semanas, neste espaço virtual promovido e dinamizado pela SPP, vamos abordar e discutir alguns cuidados e recomendações a ter quando se viaja para regiões tropicais. Comecemos por planear a viagem!



Planeamento da viagem

Em um mês de estadia numa região tropical, 75% dos viajantes experimentam algum problema de saúde. Os viajantes de maior risco parecem ser os inexperientes, os que viajam para regiões rurais e com estadias mais prolongadas. Assim, a viagem deverá ser cuidadosamente planeada, com tempo e com conhecimento, tão completo quanto possível, do local do destino, da duração e do objectivo da estadia. O viajante deverá informar-se sobre a organização política e social do país a que se dirige. A resposta às seguintes perguntas poderão ajudar a planear a viagem de forma mais segura e realista: 1) onde vai, por quanto tempo, quais as condições climatéricas? 2) Quais as doenças que irá encontrar e que vacinas deve fazer? 3) Que recursos de saúde existem, onde e como pode recorrer-se a eles? 4) Quais os medicamentos disponíveis? 5) Que cuidados deve ter com a água e comida? 6) Onde fica alojado? 7) Qual é a qualidade e disponibilidade de ensino, livros, actividades culturais e recreativas?

* Luís Varandas é pediatra, Responsável da Unidade de Infecciologia e da Consulta do Viajante do Hospital Dona Estefânia e Professor de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa

terça-feira, 9 de março de 2010

Põe-te na rua!

Por João Paulo Batalha*





De vez em quando recebo daqueles e-mails em cadeia (que desconfio ser sempre o mesmo e-mail) recordando as doçuras de ser criança nos anos 80: brincávamos na rua e comíamos terra e não morríamos. Andávamos de carro sem cinto de segurança (eu ia com irmãos e primos para a praia do Guincho empoleirados aos sete e oito e nove em pé no banco de trás de um Citröen Diane, as cabeças de fora ao vento para cabermos todos) e não morríamos. Íamos sozinhos a pé para a escola e não morríamos.



O não morrermos parece ser um ponto recorrente destes e-mails em cadeia – e, de facto, é argumento de mérito. Pois eu também não morri. Mas, verdade seja dita, não recordo com grande nostalgia a beleza inocente de tempos mais simples. Não me lembro dos desenhos animados dos anos 80 que tanta saudade causam – eu dormia, durmo e conto continuar a dormir até tarde aos fins-de-semana. Lembro-me só vagamente dos sugos e das bombocas e dos doces que consta que já não se fazem como antigamente.



Acho mal que as crianças já não brinquem na rua. Mas mesmo isso, para dizer a verdade, acho mal em abstrato. Quando era miúdo vivíamos, pai, mãe e três irmãos, numa casinha apertada em S. João do Estoril. Tínhamos a praia quase ao lado, a serra não muito longe e, na altura, descampados a fartar, invulneráveis à urbanização, mesmo ao pé de casa.



Mas a verdade é que sempre fui muito caseiro. Nunca gostei de jogar à bola (o que calhava bem, porque sempre fui muito mau nisso). Ficava em casa a ver televsão. Uma vez um relâmpago acertou-nos na antena e queimou-nos o televisor. A minha mãe recusou-se a consertá-lo. Descobri a leitura. Depois veio o computador (parece hoje ridículo aplicar o termo “computador” àquilo). ZX Spectrum, nome feliz porque, ao arrancar, o ruído que fazia parecia de facto convocar os espectros. Os jogos eram de uma simplicidade ridícula, com umas cassetes que se inseriam não me lembro bem onde e chiavam desgraçadamente durante dois ou três minutos antes de nos fornecerem um passatempo estúpido e pouco desafiante. Ah, o PacMan, que saudade!, dirá o e-mail.



Para brincar na rua, as mais das vezes, só por expulsão. Os meus pais fartavam-se de nos ver em casa e punham-nos na rua. Vão brincar lá para fora! Nunca os denunciámos à linha de apoio à criança. Que não havia, na altura. E nunca morremos (o que é argumento de mérito). De resto, pôr as crianças na rua era boa ideia, mas não era por sermos crianças. É porque, de vez em quando, é bom pormo-nos na rua, ponto. Mesmo que tenhamos 80 anos. Mudar de hábitos, experimentar novidades, sacudir a complacência. Tudo isso é sempre bom e não tem idade. E afinal, também se fazem muitas coisas boas e úteis dentro de portas. Garotos caseiros também são boa gente.



Hoje as crianças já não brincam na rua. Não é seguro. Os pais vivem aterrorizados com histórias de ladrões e assassinos, de condutores bêbedos que as atropelam e passagens de nível sem guarda – ou faz chuva e cai granizo e caem-nos as crianças com pneumonias. Claro que a maioria destes receios são irracionais e a nossa percepção do risco é espectacularmente exagerada. Claro. Mas está disposto a apostar nisso a vida do seu filho? Pois. De modo que hoje as crianças já não brincam na rua – como nós brincávamos e não morríamos. É uma pena. Uma autêntica tragédia. Um mal irreparável.


Bom. Mudam-se os tempos mudam-se as vontades, muda-se o ser muda-se a confiança e por aí fora. Eu também nunca brinquei muito na rua e sou normal.


Mais ou menos.




*Formado em História, João Paulo Batalha é jornalista e fundador da Storymakers, uma empresa dedicada à produção de exposições, eventos e produtos culturais para crianças.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Controlar o ímpeto de elogiar!

Por Bárbara Wong*





Não é por serem nossos filhos, mas eles são mesmo lindos, inteligentes, divertidos, boas pessoas, etc, etc... Enfim, tudo de bom! E nós não nos cansamos de o dizer! Lá em casa, acreditamos que a promoção da auto-estima torna-os mais seguros de si mesmos, que os ajuda a gostar deles e a serem melhores. Mas, por vezes, caímos no ridículo.

Ele faz um traço, olhamos maravilhados e dizemos: “Tens mesmo jeito, talvez possas pensar numa carreira na arquitectura”. Ela dança e canta: “Podias actuar na Broadway!”. Ele tem um paladar apurado: “Quem sabe não serás um afamado cozinheiro ou crítico gastronómico?”. O sentido de humor deles é imparável: “Gato Fedorento, cuidem-se!”

Às tantas, eles gozam connosco: “Ai, vejam bem, vejam bem, como ele é tão bom a abrir a mãozinha, olhem! Ai, a mãozinha aberta e agora... Fechada! Ai que inteligente!”, diz ele, com mais cinco centímetros do que eu, a imitar-me a voz e os movimentos. “Olhem como ele sabe tão bem despejar o lixo, talvez vá para almeida!”

Contudo, desde que li Choque na Educação – Como os nossos erros estão a afectar os nossos filhos e o que podemos fazer para educá-los melhor, do jornalista Po Bronson e da educadora Ashley Merryman, publicado pela Lua de Papel, e citei algumas partes ao pai, que controlamos o nosso ímpeto de elogiar.

Bronson e Merryman lembram que A Psicologia da Auto-Estima, de Nathaniel Branden publicada em 1969, defende que a auto-estima é a qualidade mais importante de uma pessoa. E que, desde então, esta ideia teve uma enorme repercussão na sociedade americana com consequências. De repente o culto da auto-estima servia para combater todos os males da sociedade. Por exemplo, em 1984, a Califórnia introduziu legislação que promovia que nas competições os treinadores de futebol deixassem de contar os golos e passassem a dar troféus a todos; os professores deixaram de corrigir a vermelho, tudo para não prejudicar a auto-estima dos mais pequenos.

Segundo uma meta-análise feita a 200 estudos sobre o tema, concluiu-se que “uma elevada auto-estima não melhorava as notas nem o sucesso profissional. Nem sequer reduzia o consumo de álcool. E muito menos contribuía para a diminuição de qualquer tipo de violência”.

Na verdade, os elogios às crianças podem ter um efeito contrário: “os alunos elogiados passam a evitar correr riscos e a sentir-se menos autónomos (...); [têm] uma menor persistência na execução de tarefas (...). Quando chegam à universidade, os alunos muito elogiados desistem frequentemente de disciplinas quando estão em risco de receber notas medíocres e têm dificuldades em escolher uma major – têm medo de se comprometer com algo porque têm medo de falhar.” Mais. Quando crescem, estas crianças tornam-se adultos competitivos e interessados em destruir os outros porque têm que preservar a sua imagem.

Depois de lermos e comentarmos estas páginas constatamos que algumas destas coisas já aconteciam: “X” não se esforça porque tem medo de errar; “Y” é pouco persistente. Mudamos o registo de comunicação. Agora dizemos: “Nada se consegue sem esforço. É preciso trabalhar. Tens que pensar. O cérebro é um músculo que tal como os abdominais tem que ser trabalhado.” Deixámos de elogiar o global – “és tão bom!” - e passamos ao particular, a elogiar a persistência, o trabalho concreto, o esforço que fazem para conseguir uma coisa.

Mas, entre nós, mãe e pai, continuamos a comentar como eles são fantásticos, maravilhosos e nos enchem de orgulho a cada dia que passa, ou seja, auto-elogiamo-nos-a-nós-mesmos (perdoem a redundância)!

*Bárbara Wong é jornalista no "Público" há 13 anos, especializada em temas de Educação, Ensino Superior e Família. Em 2005 ganhou o prémio de jornalismo "A Família e a Comunicação Social", com um texto sobre os pais que partilham tarefas com as mães, intitulado “Um homem na sala e na cozinha”.
Em 2008 publicou o livro "A Escola Ideal: Como escolher a escola do seu filho dos 0 aos 18 anos". É co-autora, com a professora Ana Soares, do blogue Educar em Portugues. É casada e mãe de um rapaz e de uma rapariga.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Arte para o Bebé

O Bebé Filósofo é um privilegiado. Inaugura hoje a sua própria colecção de arte digital, feita propositadamente para ele por ilustradores infantis portugueses.

Sim, porque se faz muita e boa arte para crianças em Portugal. Nós sabemo-lo.
Quantos o saberão também?

O primeiro é o Ricardo Rodrigues que para além de criar ilustrações deliciosas, aderiu sem pestanejar a este projecto. Obrigado, Ricardo!

Aqui fica o pin, que será daqui a pouco "Pin da Semana". Quem quiser apropriar-se dele para colar no seu blog e linkar para aqui, pode fazê-lo à vontade. O Ricardo deixa e o Bebé Filósofo também!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Quando não sabes, pergunta aos poetas...

Por Pedro Sampaio Nunes*



Tinha um cravo no meu balcão;


veio um rapaz e pediu-mo: mãe, dou-lho ou não?


Sentada, bordava um lenço de mão


veio um rapaz e pediu-mo: mãe, dou-lho ou não?


Dei um cravo e dei um lenço, só não dei o coração:


mas se o rapaz mo pedir: mãe, dou-lho ou não?"


Eugénio de Andrade


Ao fim de 5 anos dedicados às crianças, apercebo-me que a pediatria de hoje acompanha as profundas mudanças sociais e culturais da nossa sociedade…já não somos só os médicos dos anjos…dos bebés tão queridos, dos corações inocentes, somos também os médicos dos adolescentes problemáticos, das crianças dos bairros marginais, das, cada vez mais, famílias disfuncionais…

A abertura das urgências pediátricas até aos 18 anos condicionou uma nova realidade para nós, mas já presente na nossa sociedade. Não é incomum encontrar nas nossas enfermarias adolescentes que já são mães, o que as coloca num papel paradoxal. Se por um lado, não podem assumir responsabilidades por si próprias, porque são menores, por outro lado assumem grande influência na vida do seu próprio filho. São questões como estas de carácter não só moral, mas também ético-legal, com as quais deparamos cada vez mais.

As crianças crescem e hoje, a complexidade da estrutura social leva-nos a pensar qual o limite entre adolescência e idade adulta. Teoricamente definidos os 19 anos como o limite da idade pediátrica, será na verdade esta barreira real? Pois actualmente aos 16 anos a estrutura física implica terapêuticas destinadas a adultos; e será que a mentalidade assumida, há vários anos, como correspondente à adolescência poderá hoje continuar a ser assumida como pediátrica? A verdade é que as nossas crianças tornam-se cada vez mais precoces. A disponibilidade e facilidade com que se acede à informação, condiciona modelos comportamentais diferentes de há 15 ou 20 anos atrás e a maturação dos processos cognitivo-sociais ocorre de forma individual e dependente de uma série de variáveis, das quais o modelo socio-familiar impõe um peso relevante. Não é por isso de estranhar que encontremos adolescentes com comportamentos e mentalidades de adultos.

Mas, chegará a adulto, aquele a quem roubaram a infância, os sonhos de adolescente, as tardes infindáveis de futebol, a emoção do primeiro namoro?

Acredito que nalguns casos a própria sociedade obrigou estas crianças a ultrapassar esta fase da sua vida, obrigou-os a crescer, por vezes sem quererem, por vezes das formas mais cruéis, sem família, sem apoio, sem sonhos, obrigados a lutar das mais diversas formas para conseguirem um lugar na sociedade que não criaram, mas na qual são obrigados a viver.

Actualmente na área correspondente ao Hospital onde me formei, 80% da criminalidade é perpetrada por jovens com menos de 16 anos de idade e não pretendo de alguma forma desculpar os comportamentos anti-sociais com as influências sócio-familiares, mas não nos podemos esquecer que, tal como disse Pitagoras: "Eduque os meninos e não será preciso castigar os homens". A verdade é que a educação social e moral começa sempre no lar (quando existe), mas atendendo às famílias disfuncionais, que papel cabe ao Pediatra na educação dos seus pacientes? Será meramente de educação e promoção para a saúde? Ou devemos ir mais longe e tentar alcançar a moralidade social? Será este o papel correspondente ao provedor da criança? E porque não da família? E que papel compete a todos nós enquanto membros da sociedade que criámos? Continuar a ostracizar estes grupos menos favorecidos ou contribuir de alguma forma para a sua educação…contribuir para a educação de uma família global, transmitindo valores que nos permitam criar um mundo melhor…

Acredito que o Pediatra de hoje deve saber evoluir, actualizar-se, crescer enquanto clínico e aprender como lidar com as diferentes componentes sociais, enquanto pessoa e enquanto médico. Compete-nos a nós, assumir a resiliência das nossas crianças e saber adoptar as melhores estratégias para lidar com grupos cada vez mais heterogénos.

…Muitas são as dúvidas que percorrem o meu espírito, mas como dizia Freud: “quando não sabes, pergunta aos poetas…eles têm sempre resposta para as questões da alma…” e este poema de Eugénio de Andrade relembra-nos que por muito problemática que seja a nossa sociedade…por muito confusa que estejam as nossas crianças, acima de tudo foram e serão no seu íntimo inocentes, com falta de amor neste mundo…

* Pedro Sampaio Nunes tem 32 anos, é pediatra e Assistente Hospitalar de Pediatria Médica na  Unidade de Cuidados Intensivos e Especiais Pediátricos do Hospital Fernando Fonseca EPE.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Hoje é um bom dia para...

Imprimir uma casinha de papel no trabalho. Levar para casa, cortar, pintar e colar com as crianças, depois dos banhos, antes de jantar (ou noutra ordem qualquer).

Está prontinha aqui.

E muitas ideias, simples e deliciosas aqui.


 

terça-feira, 2 de março de 2010

Pais Insuportáveis

*Por Rita Quintela

Pediram-me há dias que escrevesse acerca de crianças verdadeiramente insuportáveis.

Talvez este tenha sido um dos temas mais difíceis sobre o qual me pediram que escrevesse. É que eu não conheço crianças verdadeiramente insuportáveis. Haverá algumas mais mal-educadas mas que tolero, ou outras menos sociáveis mas cujos comportamentos aceito.

O pior são os pais. Há pais verdadeiramente insuportáveis e sobre esses ninguém me perguntou nada. Logo eu, que tinha tanto para dizer… Antes de mais nada, dizer que quase todos os miúdos menos “educados” deviam apontar o dedo aos pais.

A maior parte das crianças difíceis vivem com mães e/ou pais que não sabem impor regras, que se desautorizam mutuamente, que usam as crianças como estratégias de arremesso de emoções, que querem os filhos construídos à imagem das suas expectativas, que não exigem respeito, nem autonomia, nem nada.


Não tenho uma família perfeita, cá em casa também há miúdos birrentos e pais que fervem em pouca água. Mas vamos vivendo e aprendendo. Muito importante – vamo-nos adaptando.

Para criar miúdos equilibrados, considero que deve existir um conjunto de pressupostos no dia-a-dia das crianças e que passam:

- Pela consciência das responsabilidades: fazer a cama, arrumar a mochila, por a mesa, dobrar a roupa, fazer os trabalhos de casa;

- Pela partilha: ajudar os irmãos mais novos, partilhar os brinquedos, dividir o chocolate;

- Pelo respeito aos mais velhos: os pais e professores mandam, as crianças obedecem. Os avós são para respeitar em dobro (no meu caso particular, tenho alguns problemas em fazer perceber aos miúdos o respeito que devem ter com a minha mãe.)

- Pelo incentivo à autonomia: tomar banho sozinho, ir deitar-se sozinho, servir-se sozinho, etc...


Aos dezoito meses um bebé pode e deve ajudar a arrumar os brinquedos.
Aos dois anos pode comer sozinho. Sim, suja tudo. E depois?
Aos três pode dobrar o pijama ou ajudar a pôr a mesa (tarefa que passará a demorar o dobro do tempo mas ninguém disse que ter filhos rentabilizava as horas, pois não?)
Aos quatro pode fazer a cama, vestir-se, arrumar a roupa nas gavetas (fica tudo trocado).
Aos cinco toma banho sozinho
Aos seis consegue orientar-se sem ajuda nos balneários da piscina, ajuda a arrumar a cozinha e não passará fome se comer todos os dias na cantina da escola. Pode tomar conta do irmão mais novo, fazer recados, enfim, um novo mundo se abre a partir dos seis. Aprendem a ler, o que facilita muitíssimo – podem contar histórias aos irmãos/amigos/primos, gerir jogos, etc.


Uma outra coisa que faz falta ao equilíbrio emocional dos miúdos é a responsabilização pelo erro (o castigo, a palmada no rabo). Reparem – não estou a falar de violência gratuita ou de humilhação das crianças mas sim de lhes chamar a atenção. Parece-me que um dos grandes males dos miúdos de agora é não saberem exactamente onde é o limite. A culpa não é deles.

*Rita Quintela tem 38 anos, é casada e mãe de três raparigas e um rapaz. Profissões "muitas": Mãe de 4 (com todas as valências que daí resultam), dona de casa, funcionária pública, artesã e blogger (escreve no Mãe Galinha).

segunda-feira, 1 de março de 2010

Ver ou Viver?

Por Maria João Lage*

Estamos todos à espera de ser entretidos. Confesse: se eu não o conseguir entreter em duas linhas, vai passar à frente.

E as crianças não são diferentes: a escola, o pediatra, os amigos, os pais... existem exclusivamente para os entreter. A vida é um enorme espectáculo para gozar, de preferência sentado e com comida na mão.

Os programas escolares têm que ser atraentes; os livros têm que ser coloridos interactivos e cheios de fotografias; a informação, rápida, variada e superfical; as aulas, cheias de power-points e os professores divertidos.

Na rua , é preciso ouvir música ou enviar / receber mensagens “urgentes”.

Em casa, continua a exigência: os pais têm que propor “programas giros ” ou ser fornecedores permanentes de meios de entretenimento.

Já se perguntou alguma vez o que é que transformou as crianças de jogadores de bola e saltadores do eixo em massas informes atarrachadas aos sofás? O que lhes forneceu milhares de imagens e informações desgarradas e lhes tirou a capacidade de formular verbalmente uma ideia lógica? O que lhes tirou o olho negro e a perna esfolada depois da luta ganha aos amigos e lhes deu vários kilos a mais e a incapacidade de conhecer a sua força e de dominar o seu mundo? O que lhes deu acesso ilimitado e permanente a tudo ao mesmo tempo e lhes roubou a possibilidade de fechar o livro e dizer: acabei, vou fazer outra coisa? O que os fez ignorar o miúdo da casa ao lado e assistir passivamente ao desenrolar irreal das vidas dos outros? O que lhes pôs dentro do quarto pessoas que ninguém deixaria entrar pela porta de casa?

Se ainda não descobriu a resposta, recomendo-lhe um livro.

Se não o ler, leia este comentário...




*Maria João Lage, Pediatra