segunda-feira, 1 de março de 2010

Ver ou Viver?

Por Maria João Lage*

Estamos todos à espera de ser entretidos. Confesse: se eu não o conseguir entreter em duas linhas, vai passar à frente.

E as crianças não são diferentes: a escola, o pediatra, os amigos, os pais... existem exclusivamente para os entreter. A vida é um enorme espectáculo para gozar, de preferência sentado e com comida na mão.

Os programas escolares têm que ser atraentes; os livros têm que ser coloridos interactivos e cheios de fotografias; a informação, rápida, variada e superfical; as aulas, cheias de power-points e os professores divertidos.

Na rua , é preciso ouvir música ou enviar / receber mensagens “urgentes”.

Em casa, continua a exigência: os pais têm que propor “programas giros ” ou ser fornecedores permanentes de meios de entretenimento.

Já se perguntou alguma vez o que é que transformou as crianças de jogadores de bola e saltadores do eixo em massas informes atarrachadas aos sofás? O que lhes forneceu milhares de imagens e informações desgarradas e lhes tirou a capacidade de formular verbalmente uma ideia lógica? O que lhes tirou o olho negro e a perna esfolada depois da luta ganha aos amigos e lhes deu vários kilos a mais e a incapacidade de conhecer a sua força e de dominar o seu mundo? O que lhes deu acesso ilimitado e permanente a tudo ao mesmo tempo e lhes roubou a possibilidade de fechar o livro e dizer: acabei, vou fazer outra coisa? O que os fez ignorar o miúdo da casa ao lado e assistir passivamente ao desenrolar irreal das vidas dos outros? O que lhes pôs dentro do quarto pessoas que ninguém deixaria entrar pela porta de casa?

Se ainda não descobriu a resposta, recomendo-lhe um livro.

Se não o ler, leia este comentário...




*Maria João Lage, Pediatra

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