terça-feira, 2 de março de 2010

Pais Insuportáveis

*Por Rita Quintela

Pediram-me há dias que escrevesse acerca de crianças verdadeiramente insuportáveis.

Talvez este tenha sido um dos temas mais difíceis sobre o qual me pediram que escrevesse. É que eu não conheço crianças verdadeiramente insuportáveis. Haverá algumas mais mal-educadas mas que tolero, ou outras menos sociáveis mas cujos comportamentos aceito.

O pior são os pais. Há pais verdadeiramente insuportáveis e sobre esses ninguém me perguntou nada. Logo eu, que tinha tanto para dizer… Antes de mais nada, dizer que quase todos os miúdos menos “educados” deviam apontar o dedo aos pais.

A maior parte das crianças difíceis vivem com mães e/ou pais que não sabem impor regras, que se desautorizam mutuamente, que usam as crianças como estratégias de arremesso de emoções, que querem os filhos construídos à imagem das suas expectativas, que não exigem respeito, nem autonomia, nem nada.


Não tenho uma família perfeita, cá em casa também há miúdos birrentos e pais que fervem em pouca água. Mas vamos vivendo e aprendendo. Muito importante – vamo-nos adaptando.

Para criar miúdos equilibrados, considero que deve existir um conjunto de pressupostos no dia-a-dia das crianças e que passam:

- Pela consciência das responsabilidades: fazer a cama, arrumar a mochila, por a mesa, dobrar a roupa, fazer os trabalhos de casa;

- Pela partilha: ajudar os irmãos mais novos, partilhar os brinquedos, dividir o chocolate;

- Pelo respeito aos mais velhos: os pais e professores mandam, as crianças obedecem. Os avós são para respeitar em dobro (no meu caso particular, tenho alguns problemas em fazer perceber aos miúdos o respeito que devem ter com a minha mãe.)

- Pelo incentivo à autonomia: tomar banho sozinho, ir deitar-se sozinho, servir-se sozinho, etc...


Aos dezoito meses um bebé pode e deve ajudar a arrumar os brinquedos.
Aos dois anos pode comer sozinho. Sim, suja tudo. E depois?
Aos três pode dobrar o pijama ou ajudar a pôr a mesa (tarefa que passará a demorar o dobro do tempo mas ninguém disse que ter filhos rentabilizava as horas, pois não?)
Aos quatro pode fazer a cama, vestir-se, arrumar a roupa nas gavetas (fica tudo trocado).
Aos cinco toma banho sozinho
Aos seis consegue orientar-se sem ajuda nos balneários da piscina, ajuda a arrumar a cozinha e não passará fome se comer todos os dias na cantina da escola. Pode tomar conta do irmão mais novo, fazer recados, enfim, um novo mundo se abre a partir dos seis. Aprendem a ler, o que facilita muitíssimo – podem contar histórias aos irmãos/amigos/primos, gerir jogos, etc.


Uma outra coisa que faz falta ao equilíbrio emocional dos miúdos é a responsabilização pelo erro (o castigo, a palmada no rabo). Reparem – não estou a falar de violência gratuita ou de humilhação das crianças mas sim de lhes chamar a atenção. Parece-me que um dos grandes males dos miúdos de agora é não saberem exactamente onde é o limite. A culpa não é deles.

*Rita Quintela tem 38 anos, é casada e mãe de três raparigas e um rapaz. Profissões "muitas": Mãe de 4 (com todas as valências que daí resultam), dona de casa, funcionária pública, artesã e blogger (escreve no Mãe Galinha).

12 comentários:

  1. Adorei o post. Eu sou mãe de dois rapazes e não é fácil impor regras, mas estas são insenciais ao crescimento intelectual de qualquer miúdo.

    Paula

    ResponderEliminar
  2. Ora nem mais! Também concordo a 100% com a atribuição de tarefas aos cachopos e com os incentivos à autonomia. :)

    ResponderEliminar
  3. "Parece-me que um dos grandes males dos miúdos de agora é não saberem exactamente onde é o limite. A culpa não é deles."
    Tudo dito!!

    Beijinhos e obrigada pela partilha!

    ResponderEliminar
  4. Obrigada! Nem imagina o quanto as suas palavras foram importantes para mim nesta fase em que luto para que o meu mais velho não se perca...

    ResponderEliminar
  5. Parece-me correctíssima a análise: as crianças só são "insuportáveis" se os pais assim o permitirem. Não tendo filhos mas de uma maneira geral sabendo lidar com crianças, penso que se deve dar à criança o seu espaço para explorar, aprender, perceber, imitar os adultos e os crescidos para que depois se possa deixá-la fazer as suas próprias tarefas, brincadeiras, arrumações e outras acções. É visível o orgulho na cara da criança quando efectua uma tarefa nova com sucesso e é congratulada por isso, mesmo que não saiba verbalizá-lo.

    ResponderEliminar
  6. uma criança sem regras é como um marinheiro sem bússola.

    ResponderEliminar
  7. Adorei o seu post Rita. É mesmo como diz: mais do que crianças "insuportáveis", há pais insuportáveis e, acrescento também, adultos com falta de paciência (há dias assim...)

    doiscontigo.blogspot.com

    ResponderEliminar
  8. Gostei de tudo, concordei com tudo... menos da palmada no rabo. Castigo sim, disciplina muita, palmada nunca... não se pode legitimar o castigo e a dor física em nome da disciplina e dos bons costume. Esse tempo já lá vai...

    ResponderEliminar
  9. (não vou discutir a necessidade suprema de saberem o que é, pelo menos isso, uma palmada. E uma palmada não significa, obrigatóriamente, dor nem humilhação.)

    da Rita, do que escreve e da sua forma de ver e colocar as coisas: adoro. Adorei. Como sempre Rita. A Pais e filhos nunca mais foi a mesma...

    ResponderEliminar
  10. as crianças hoje em dia são muito mais malcriadas com estranhos, do que com os pais,
    sobre pais tenho a dizer que o meu por exemplo faz tudo pra provocar. não gosto de gente idiota naum importa a idade.

    ResponderEliminar
  11. eu tenho dois pais insuportaveis, nunca fui nenhum maloqueiro, a tres anos que eu frequento o programa para alunos super dotados da minha escola, nunca tirei notas ruins, sempre foram acima de 8, meus pais não me dão paz, não podem me ver jogando um simples joguinho, se eu jogo 10 minutos, minha mãe, que eu ja percebi que conspira contra mim mente pro meu pai que eu fiquei 10 horas jogando, e não para de inventar até ele bloquear meu computador, tenho 14 anos, uma penca de meninas ja quis namorar comigo, mas elas não querem saber de um cara cujo os pais não o deixam ir na padaria a dois quarteirões de distancia, mas eu me cansei, como ja percebi que não há quem possa me ajudar , decidi não me curvar mais a essa prisão, a partir de hoje, se eu quiser ir por exemlo no shopping co os amigos ou uma "amiga" eu vou fugir de casa, ja chega, ja chega de ser prisioneiro, meus pais não me permitem aproveitar a melhor parte da vida! então eu vou aproveitar sem o consenso deles! muito bom o post, mas acho que poderia ter "carregado" um pouco mais na mensagem aos pais :D Corrijam isso no site, ja fiz 15 captchas, ja acertei 10 deles e disse que estava errado, não estou conseguindo postar isso :P

    ResponderEliminar