Nos últimos anos, a oportunidade de viajar para regiões tropicais aumentou de forma significativa, consequência, em grande parte, da maior facilidade e comodidade das viagens aéreas. Num curto espaço de tempo percorrem-se de forma confortável grandes distâncias, transportando-nos a locais remotos e exóticos. Por ano, partem da Europa, vários milhões de pessoas, tendo como destino as regiões tropicais. As motivações são várias e incluem o simples turismo, cooperação, trabalho, negócios ou missões humanitárias. As crianças, com frequência, acompanham os adultos. Estudantes adolescentes efectuam viagens em grupo, para férias ou em programas de intercâmbio entre as escolas. Imigrantes regressam aos seus países, para rever familiares e amigos, levando as crianças consigo. Muitos destes grupos de viajantes ficam expostos e em risco de contrair doenças inexistentes, eliminadas ou controladas nos países de origem.
Este incremento do número de viajantes a nível internacional contribuiu para o desenvolvimento, nos últimos anos, da chamada “Medicina das Viagens”. A facilidade em importar e exportar doenças, algumas eliminadas nos países desenvolvidos, mas com ecossistema favorável a nova disseminação, a descrição de casos fatais em turistas, por atraso ou erro de diagnóstico de “doenças tropicais” e a consciencialização de que existem medidas profiláticas para grande parte destas situações, contribuiu, de igual modo, para o impacto que, actualmente, tem a “Medicina das Viagens”.
Como em outras áreas da pediatria, os cuidados à criança que viaja devem enfatizar a identificação de factores de risco e formas de prevenção das doenças e dos acidentes. Isto pode ser conseguido se os pais e as crianças forem informados sobre os comportamentos a adoptar e a evitar. A preparação da viagem das crianças, no que se refere aos cuidados de saúde, deve iniciar-se algumas semanas antes da partida. Estes mantêm-se durante e após a estadia. De facto, após o regresso, a criança pode ser portadora de infecções, ainda, assintomáticas ou pode apresentar sinais e sintomas de doenças, com as quais o seu médico poderá não estar familiarizado.
Ao longo das próximas semanas, neste espaço virtual promovido e dinamizado pela SPP, vamos abordar e discutir alguns cuidados e recomendações a ter quando se viaja para regiões tropicais. Comecemos por planear a viagem!
Planeamento da viagem
Em um mês de estadia numa região tropical, 75% dos viajantes experimentam algum problema de saúde. Os viajantes de maior risco parecem ser os inexperientes, os que viajam para regiões rurais e com estadias mais prolongadas. Assim, a viagem deverá ser cuidadosamente planeada, com tempo e com conhecimento, tão completo quanto possível, do local do destino, da duração e do objectivo da estadia. O viajante deverá informar-se sobre a organização política e social do país a que se dirige. A resposta às seguintes perguntas poderão ajudar a planear a viagem de forma mais segura e realista: 1) onde vai, por quanto tempo, quais as condições climatéricas? 2) Quais as doenças que irá encontrar e que vacinas deve fazer? 3) Que recursos de saúde existem, onde e como pode recorrer-se a eles? 4) Quais os medicamentos disponíveis? 5) Que cuidados deve ter com a água e comida? 6) Onde fica alojado? 7) Qual é a qualidade e disponibilidade de ensino, livros, actividades culturais e recreativas?
* Luís Varandas é pediatra, Responsável da Unidade de Infecciologia e da Consulta do Viajante do Hospital Dona Estefânia e Professor de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa
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