Por Ana Rita Monteiro*
“Agora as crianças gostam de luxo. Têm maus modos, desprezam a autoridade, não mostram respeito pelos mais velhos e adoram incomodar. Já não se levantam quando entram pessoas mais velhas. Contradizem os pais, comem guloseimas à mesa e são tiranos com os professores.”
Esta citação podia certamente ser contemporânea, no entanto permite-nos uma viagem até Séc. V a.C., aos pensamentos do filósofo Sócrates.
De facto hoje sabemos que a criança, por volta dos 3 anos, procurar nos seus cuidadores o limite do seu comportamento como que isso lhe pudesse construir uma vida emocional estável com pilares sólidos e estruturantes. A regra surge na contingência à necessidade da criança saber até onde poderá ir no relacionamento com os seus pais e generalizando posteriormente com todos os outros. A autonomia da criança bem como o sentido de liberdade só poderão ser construídos se o significado dos limites for conhecido.
As birras são uma manifestação que caracteriza um desenvolvimento psico-afectivo normal permitindo à criança afirmar a sua personalidade. Assim sendo o desafio do limite é uma expressão saudável da necessidade de independência e autonomia da criança. Nesta fase é primordial a presença de um cuidador, habitualmente os pais, que contenham, espelhem e devolvam a acção da criança, de modo que se processe a sua individualização. É frequente os pais referirem que a fase das birras passou rapidamente uma vez que sempre que o filho gritava e esperneava eles faziam exactamente o mesmo. A observação deste comportamento era suficiente para que a birra conhecesse o seu fim. Frequentemente os cuidadores questionam os profissionais de saúde acerca das melhores estratégias para lidar com as birras de forma equilibrada, isto é, permitindo a afirmação da individualidade da criança mas assegurando que não se tornam pequenos tiranos.
Devemos recordar o significado de autoridade que frequentemente é confundido como o de autoritarismo. Autoridade significa aumentar, fazer crescer, ajudar a ser mais e melhor. É necessário clarificar junto dos pais a importância do seu papel na construção de adultos seguros e felizes. A Sociedade Espanhola de Psiquiatria Infantil recomenda uma educação orientada em torno dos 3C. Coerência, consistência e continuidade. É importante ter sempre o mesmo critério na decisão daquilo que a criança pode ou não fazer; o não uma vez dito não poderá transformar-se num sim e por último manter a coerência e consistência de forma permanente.
Ainda relevante será sempre o exemplo dos pais…
Ana Rita Monteiro é Psicóloga Clínica, Formadora em Desenvolvimento Infantil da ARS Norte e Instrutora de Massagem Infantil pela IAIM (International Association of Infant Massage)
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