Estive recentemente em Lagos, onde a Associação de Gestores Culturais do Algarve organizou um seminário sobre Serviços Educativos em Espaços Culturais. Foi uma oportunidade para programadores, técnicos e especialistas em serviços educativos de todo o país pensarem o futuro dos nossos espaços culturais – e, entre outros temas, discutir qual é o lugar das crianças nestes espaços.
As boas notícias: há uma nova geração de gente da cultura farta de museus feitos de vitrinas fechadas. Os nossos espaços culturais têm de ser casas abertas à comunidade, onde as pessoas vêm para ver mas também para participar, para discutir, para construir.
Como muito bem nos mostrou David Anderson, director do centro de aprendizagens do Victoria & Albert Museum de Londres, as pessoas vão aos museus à procura de experiências educativas, sim, mas que sejam acima de tudo divertidas para toda a família. “A qualidade da experiência conta!”, foi o que ele nos disse.
Ficámos a conhecer imensos bons exemplos nacionais (na Gulbenkian, em Serralves, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e em sítios tão improváveis como o Mosteiro de Tibães, em Braga). Pouco a pouco, com enorme dedicação e criatividade, há gente dinâmica a soprar nova vida nos nossos espaços culturais. A criar experiências que merecem ser vividas.
E cada vez mais as crianças deixam de ser aquele público que vem por acréscimo e para quem lá se organizam uns ateliers para as manter entretidas. Cada vez mais fazem parte da visita, fazem parte do museu, cada vez mais arregaçam as mangas e participam, aprendem. E ensinam-nos a fazer melhores museus, a criar melhores experiências.
Agora as más notícias: quando existem, os serviços educativos são quase sempre departamentos menores dentro dos centros culturais, onde se vão fazendo alguns ateliers colados à programação do dia. Falta-lhes autonomia, faltam-lhes recursos e, muitas vezes, apesar de toda a boa-vontade (e há muita!), falta-lhes gente com formação à altura. Precisam da imaginação e da exigência dos pais, das famílias e das crianças. Estão à espera de ser desafiados!
Deste seminário saiu a vontade de transformar os serviços educativos em espaços permanentes de contacto com o público – e em particular com as crianças. Não só para lhes falar, mas para as ouvir. Para deixar que elas criem connosco os museus e as salas de espectáculos que queremos ter. As coisas estão a mudar e é tão bom constatar isso! Mas cabe-nos a nós, público, a obrigação de sermos sedentos, de procurarmos mais e de exigirmos melhor. De bebermos o que aí há e não demorarmos a perguntar a programadores, gestores culturais e patrocinadores: E agora, senhores?
*Formado em História, João Paulo Batalha é jornalista e fundador da Storymakers, uma empresa dedicada à produção de exposições, eventos e produtos culturais para crianças.
*Formado em História, João Paulo Batalha é jornalista e fundador da Storymakers, uma empresa dedicada à produção de exposições, eventos e produtos culturais para crianças.
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