*Por Bárbara Wong
Eles estão na pré-adolescência, os seus rostos estão a mudar, as bochechas-gordas-que-apetece-comer desapareceram e na linha T começam a aparecer as primeiras borbulhas. Mas, de manhã, ainda não acordaram e as suas faces continuam a cheirar a bebé. Espreguiçam-se e esticam o corpo, tal e qual como quando eram recém-nascidos, e nós, os pais, ficávamos a olhar para eles, embevecidos.
Hoje, continuamos a olhar para eles embevecidos não porque se espreguicem, riem ou balbuciem, mas porque estão grandes, porque começam a ser autónomos e responsáveis.
Só que nem todos os dias são de embevecimento! Há dias de arrelias, de confronto porque estão a crescer, porque têm as suas opiniões e fazem questão de as defender. Mas é assim desde pequenos, os motivos de confronto é que vão mudando: primeiro, não querem comer a sopa e determinados fecham a boca; depois, não querem ir para a cama mais cedo...
Para todos estes momentos, a psicóloga espanhola María Jesús Álava Reyes, autora de vários manuais de auto-ajuda, publicados pela Esfera dos Livros, recomenda que os pais sejam coerentes. Nada de dizer primeiro que “não”, mas ao mínimo confronto fazermos a vontade à criança. As regras são fundamentais para que a criança tenha estabilidade e segurança.
"O não também ajuda a crescer", recém-publicado, é um livro muito prático que acompanha o crescimento da criança desde o momento que nasce até à idade adulta e é arrepiante quando se lê, lá mais para o fim, o que é que os filhos crescidos e com problemas dizem aos pais: Porque é que me deixaste fazer tudo o queria? Porque é que nunca me disseste que não?
No final de Janeiro, María Jesús Álava Reyes esteve em Lisboa e conversei com ela. Dizia-me que as crianças são muito diferentes e mudaram muito nos últimos 30 anos. Sabem mais, mais cedo; mas adquirem maturidade mais tarde. A culpa é dos pais, diz claramente. Somos nós que os superprotegemos, que lhes damos tudo, seja a comida favorita, seja o jogo que todos os outros têm.
No livro, María Jesús Álava Reyes explica: “Os pais têm de ser pais, não colegas, têm de assumir o seu papel e as suas funções, embora por vezes lhes custe; têm de ser capazes de orientar os seus filhos, favorecer o seu pensamento, o seu raciocínio, a sua sensibilidade, a sua sociabilidade, o seu auto-controlo, o seu afecto; ainda que por vezes pressuponha um esforço importante da sua parte; ainda que por vezes as crianças pareçam fechar-se nos seus argumentos; ainda que emocionalmente lhes seja muito difícil; mas têm de consegui-lo e para isso comportar-se-ão como adultos, falarão como adultos, estabelecerão as normas como adultos e, se necessário, reforçá-los-ão ou dir-lhes-ão “não” como adultos.”
Com María Jesús Álava Reyes não aprendi a dizer “não” porque essa é a palavra que os miúdos mais ouvem desde que nascem; mas aprendi que o “não” nem sempre precisa de ser explicado, que é o que sempre faço. Por exemplo: Se nos pedem para ir para a cama mais tarde e nós dizemos “não”, nada de ficar meia hora a justificar aquela decisão. Foi meia-hora que as crianças perderam de sono e ganharam com a sua teimosia. Basta dizer-lhe: “Já sabes que tens que ir para a cama cedo” e acabou!
No dia seguinte, lá estarei, embevecida, a vê-los acordar.
*Bárbara Wong é jornalista no "Público" há 13 anos, especializada em temas de Educação, Ensino Superior e Família.
Em 2005 ganhou o prémio de jornalismo "A Família e a Comunicação Social", com um texto sobre os pais que partilham tarefas com as mães, intitulado “Um homem na sala e na cozinha”.
Em 2008 publicou o livro "A Escola Ideal: Como escolher a escola do seu filho dos 0 aos 18 anos". É co-autora, com a professora Ana Soares, do blogue Educar em Portugues.
É casada e mãe de um rapaz e de uma rapariga.
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