Por Sónia Morais Santos*
Perguntam-me: o quê??! Tens três filhos?! E uns arqueiam o sobrolho, horrorizados, como se tivesse três quistos, coisas feias e dolorosas e importunas. Outros, espantam-se, admiram-me a valentia, ah! Isso é que é coragem! E repetem, num suspiro cansado: três…
Às vezes, quando digo que gostava de ter outro, há quem dê gritos, cruzes, credo, valha-te Deus, então não chega já? então já tens dois rapazes, uma menina, vais agora meter-te noutra, para quê? Para quê?
Para quê. Eu sei lá para que é que temos filhos. Nuns casos pode ser porque sim, porque fomos como que programados para isso, desde tenríssima idade. Noutros casos pode ser porque o desejamos profundamente, porque queremos um bebé, porque chegou a hora, porque queremos prolongar a nossa vida noutras vidas, porque queremos ter um fruto de um grande amor, porque ansiamos por educar, por ver crescer. Temos filhos por uma destas razões, por todas estas razões, por nenhuma delas.
No meu caso, o primeiro filho chegou porque sim. Porque queríamos um bebé nas nossas vidas, porque nos amávamos e tinha chegado a hora.
O segundo veio, naturalmente. Mas aí, receei que o amor pelo segundo não chegasse aos calcanhares do primeiro. Estava tão apalermada com o primeiro que julguei ser impossível a repetição daquele sentimento. Impossível. Temi. Pior: acreditei nisso e culpabilizei-me. Apesar disso, afeiçoei-me à barriga, ao feto, conversei com ele, amei-o. Terei pedido desculpas pelas minhas dúvidas. Mas depois… depois quando nasceu percebi a dimensão do meu equívoco. Chorei tanto quando o segundo nasceu, quando chorou pela primeira vez, acabado de sair para o mundo. Chorei de paixão, porque percebi imediatamente, de modo visceral, brutal, animal, que esta coisa de amar os filhos não é dada a divisões mas antes a multiplicações. Ou seja: não há um coração que tem de se repartir. Há um coração que aumenta, a cada nascimento. E assim, ao segundo filho, o meu coração ficou maior.
E depois veio a necessidade do terceiro. Como se fosse um vício. O vício de gostar arrebatadamente. O vício de sentir o coração crescer. Como se já não soubesse viver de outra maneira, sem ser assim, com o coração dilatado dentro do peito. Quando a Madalena nasceu eu já não chorei porque já sabia o quanto gostava dela, o quanto ia gostar dela, já sabia que o amor pelos filhos não se divide, multiplica-se.
Por isso, quando me perguntam “o quê??! tens três filhos?!”, como se em vez de filhos falassem de quistos, coisas feias e dolorosas e importunas, eu sorrio. Limito-me a sorrir. Eles não sabem nem sonham mas o meu coração é maior que o deles. E a felicidade que carrega é enorme, é imensa, é desmesurada. E é por isso, também, que se calhar um dia destes ainda tenho outro. Só não estou segura de que, então, o coração me caiba todo dentro do peito.
* Sónia Morais Santos é mãe e jornalista. Autora e apresentadora do programa "Portugal dos Pequeninos" na Antena 1, assina ainda o blog "Cocó na Fralda".
Olá Sónia. Vi-me e revi-me nas suas palavras... que bom que foi "lê-la". Ainda só tenho um filho, uma menina, mas as dúvidas e a culpa que elas me fizeram sentir em relação a um segundo filho já as senti...depois... Bom, depois cheguei à essa mesma conclusão: o meu coração vai aumentar e o amor pelo segundo e terceiro e quarto vai ser o mesmo que pelo primeiro. Imenso, brutal, enorme, animal. Estou certa disso, depois de ler o seu post, ainda mais. Obrigada :-). E aos autores e comentadores do blogue, parabéns por este projecto. Filipa
ResponderEliminarBom dia,
ResponderEliminarNão posso deixar de vos agradecer pelo nascimento deste Blog, cada post que leio as lágrimas invadem os meus olhos, lágrimas de uma grande emoção e felicidade.
Tenho um filho de 19 meses e leio bastante sobre bebés, as fases por que passam, a alimentação, as doenças, todas as questões mais "técnicas" sobre bebés, mas fazia-me MUITA falta ler coisas que tocam no coração, no sentimento e emoção que sinto quando estou com o meu filho, o meu tesouro!
Muito Muito Obrigada, afinal eu não sou "lamechas" sou apenas MÃE!!!
Foi um dos textos mais bonitos que li, acerca da maternidade. Vou a caminho do meu primeiro filho e o meu único desejo é que venha com saúde (adoro este "cliché" tão verdadeiro). Não penso, por isso, por enquanto, em multiplicar a prole. Mas, ao ler este texto, meramente por acaso (estava a navegar, sem rumo, no blogue), o meu coração também ficou maior – não porque faça ideia de ter mais filhos (venha o primeiro e logo se vê), mas porque, se os tiver, caramba, que bonita maneira de o explicar. Obrigada!
ResponderEliminarLindo lindo lindo!! É isso mesmo, é um amor tão grande, que por muito que se fale disso, só depois de os termos compreendemos verdadeiramente. Adorei.
ResponderEliminarEste post é a repetição da minha vida. Na primeira e segunda gravidez todas me davam os parabéns- à Terceira gravidez comecei a reeceber estes esgares, caras feias como se pensassem "coitadinha...".
ResponderEliminarAdoro os meus três filhos. SEMPRE quis ter 3 filhos, desde que me lembro para aí aos 9 anos já tinha decidido.
Sou uma mulher determinada, trabalhadora, lutadora, com carreia, curso superior, pós-graduação e mãe de 3 filhos lindos. Para mim os melhores do mundo. São eles que me abraçam, me mimam, me sorriem e me dizem que estou linda!
Não sou menos mulher, pessoa e profissional por os ter. Apenas mais ocupada. E mais feliz!
vidademulheraos40.blogspot.com