quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Gripe A, a vacina e o regresso dos papões



Orgulhamo-nos da taxa de vacinação. Praticamente universal. Os grupos anti-vacinas nunca prosperaram em Portugal. As razões para este sucesso são discutidas: o Plano Nacional de Vacinas surgiu em 1965 com as características que hoje lhe conhecemos: gratuito, universal, fornecido por Centros de saúde sem necessidade de consulta. Embora não seja obrigatório, conquistou os portugueses. Enquanto a visita a um Centro onde se administrem vacinas é vista , em alguns dos países mais desenvolvidos do hemisfério norte, como uma oportunidade a não desperdiçar, em Portugal entrou-se, silenciosamente, numa onda eufórica que tem permitido aos Centros de Saúde marcar arrogantemente horários especiais para vacinação, fazendo perder dias de trabalho às famílias submissas, adiando por motivos fúteis ( inventando falsas contra-indicações), recusando vacinas simultâneas, criando intervalos entre vacinas não exigíveis por nenhuma racionalidade.
Alguns enfermeiros vêem , na administração da vacina, um momento de poder. E se muitos aprofundam o tema e aproveitam o momento para preciosa intervenção pedagógica de vigilância ou ensino de saúde, outros exercem esse poder da pior maneira.
Seja como for, o mito de que, na disciplina do PNV somos excepcionais, prosperou.
Até à gripe A. Até à vacina da gripe A.

Peço desculpa pela incomodidade do tema. A saturação dos leitores é imaginável. Se algum, porventura me seguiu até este momento, é seguro que aqui me abandonou. Não importa. Este blogue não existe para ter 5 000 amigos, nem nenhum dos bloguers é candidato a cargos da República.
Mas a gripe A, os planos de contingência e a vacinação decorreram com tal mediatização , e foi tal o enfado subsequente, que nos arriscamos a que não haja avaliação, nem discussão das experiências, por desistência dos responsáveis e enfado dos intervenientes possíveis.
No que respeita à vacinação os objectivos não foram atingidos: não se vacinaram os designados grupos de risco, os Centros de Saúde não perceberam o carácter de "campanha" da vacina, ignoraram as directivas da DGS, criaram obstáculos, mantiveram uma atitude que os utentes interpretaram correctamente como de distanciamento, quando não de discordância .
As principais características das campanhas anti-vacinas estiveram presentes e mostraram como, afinal, somos iguais aos piores. Ignorância disfarçada – toda a gente falava de "adjuvante"; alarmismo injustificado - ressuscitaram- se quase todos os ancestrais inimigos das vacinas entre as quais pontificam o Síndrome de Guillain Barré e o Autismo ; o comportamento de médicos e enfermeiros foi deplorável, contrariando surdamente o esforço das autoridades. Os médicos, incluindo o seu Bastonário , evidenciaram a proverbial impreparação para as questões ligadas à vacinação.
A confusão continua e a postura de avestruz não facilita o esclarecimento das posições. Alguns médicos atribuem à vacina, mesmo quando a relação temporal é longínqua, toda a casta de sintomas. Em vez de reportarem esses efeitos e de os apresentarem às reuniões de pares ou de os submeterem a publicação em revistas de mérito reconhecido, comentam com os doentes.
A indústria farmacêutica devia igualmente perceber que a sua imagem na opinião pública está ferida. Cidadãos que nunca leram o Fiel Jardineiro nem ouviram falar da Freira de Montjuich nem da falsa ex-Ministra da Saúde da Carélia, desenvolvem as teorias conspirativas sobre a gripe, a declaração de pandemia e a compra de vacinas pelo Estado. E a OMS, remeteu-se a uma estratégia defensiva que, pelo menos nos seus aspectos mediáticos, se tem revelado decepcionante.

4 comentários:

  1. Vacinei as crianças contra a gripe, tomada a decisão e ouvidas as pessoas que fundamentadamente tinham algo a dizer: o pediatra e as autoridades de saúde competentes. Qual não foi o meu espanto, quando momentos depois da administração da primeira dose, a minha filha ainda no rescaldo da picada chama "má" à enfermeira e obtém a seguinte resposta: "Má não sou eu, má é quem te trouxe para levar esta vacina!". Tivesse eu menos autoconfiança e teria saído naquele dia do Centro de Saúde a achar que tinha envenenado os meus filhos. Que os profissionais de saúde com espírito anti-vacina alegassem uma qualquer objecção de consciência, fundamentada em dados científicos, e se recusassem a dar conselho nesta matéria ou mesmo a administrá-la, eu até aceitava. Agora, este diz-que-disse subtil e venenoso, apoiado em sabe-se lá o quê mais que pesquisas enviesadas no Google, conversas de café e títulos alarmistas de jornais não fez absolutamente nada pelo interesse da Saúde Pública. E foi uma vergonha nacional para os profissionais, nomeadamente os de saúde. Aos pais, os que, como eu, passaram noites acordados a velar febres de 40º, vómitos, tosses e afins, restou a paciência de esperar que o vírus seguisse um curso benigno e que as crianças superassem incólumes (o que se sabe, não aconteceu em todos os casos). Nessas noites, lamentei a vacina não disponível ainda nessa fase. E, se dúvidas houvesse, ficaram dissipadas: às 5 da manhã não há activista antivacina nenhum que me pudesse valer... E os seus argumentos, face ao evitamento de uma situação que, ainda que benigna, podia ser evitada, caíriam rapidamente por terra.

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  2. É sem dúvida lamentável e demasiado grave a irreponsabilidade das pessoas não medirem o alcance e o impacto que as suas intervenções podem ter na sociedade.

    Tenho de facto ideia que as grandes dúvidas e a maior confusão se instalou aquanda da intervenção do bastonário. As noticias foram automaticamente "coladas" e "partilhadas" nas redes sociais e as conversas e discussões entre Pais(obviamente leigos)começaram a terminar com "até já o bastonário diz!" Muita gente terá ficado com dúvidas e até tomado decisões nessa fase.


    Na perpectiva de Mãe...
    Não estando incluídas, por uma questão de idade e numa primeira fase, nos grupos prioritários de vacinação as minhas duas filhas foram rapidamente apanhadas pela Gripe A.
    Entre algumas febres e indisposições, e ao contrário de alguns dos seus colegas que chegaram mesmo a estar internados, tive a sorte de tudo correr bem!
    No entanto, antes disso e numa fase em que virou "moda" questionar a Vacina e até recomendar o "Não", resolvi parar e cingir-me a um raciocínio básico e lógico e que me pareceu o mais racional:
    1.Sou Mãe e o meu dever é protegê-las!
    Se há uma vacina disponível que evita que apanhem um vírus com o qual vão seguramente ter contacto, quem sou eu para vetar as minhas filhas a um direito que é seu!?
    2. Sendo importante estar informada, parece-me lógico “ouvir” a fonte mais segura.
    Se há uma DGS e uma OMS que recomendam a vacina, para quê perder tempo a "inventar"?
    A decisão ficou tomada, e não fosse o vírus ter sido mais rápido do que as crianças a partir dos 4 anos serem abrangidas, as minhas duas filhas estariam seguramente vacinadas.

    Muita gente, preferiu confiar na sorte...

    Compreendendo de certa forma os Pais confusos e baralhados que ficaram com medo da vacina, e Não compreendendo os médicos que chegavam a deixar "nas suas mãos", desejo sinceramente e a todos, que não lhes tenha saído "cara" a decisão!

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  3. A gripe A é habitualente uma doença benigna e autolimitada mas numa pequena percentagem de casos podem ocorrer complicações graves.
    Este ano morreram três vezes mais crianças por gripe.. Não morreu ninguém com a vacina!!
    Vale a pena arriscar?

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  4. Os pais que não quiserom vacinar seus filhos contra a gripe A, tomarom esta decisão para proteger seus filhos.
    Há médicos e outros profissionais de saúde que também não quisserom tomar a vacina.
    Perguntarom ao primer ministro inglês se seu filho já tinha sido vacinado
    e ele não respondeu.
    O governo da Polonia não quis comprar as vacinas porque a industria farmacêutica não assumia suas responsabilidades em caso de reacções graves posvacinais.
    Porque a industria farmacêutica não publica os efeitos adversos das vacinas?? porque não publica os ingredientes das vacinas??? porque não se regista os sintomas das crianças posvacinais?? Se houver uma reacção grave com convulsões e coma 10 minutos depois de tomar a vacina porque não se regista estes efeitos???
    Deveria de haver maior farmacovigilância.

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