O desenvolvimento infantil, as suas etapas, as idades em que determinadas aprendizagens se realizam e como ajudar a criança a optimizar o seu potencial são preocupações crescentes dos pais. No entanto há muitas questões que ficam por esclarecer e alguma informação pode estar errada. É importante compreender porque acontecem estas etapas…
Para perceber o desenvolvimento temos de nos situar em termos evolutivos e ter em conta as particularidades na nossa espécie que é diferente dos restantes primatas.
Os primatas têm uma selecção K reprodutora, ou seja produzem uma cria, geralmente única, fruto de uma gestação prolongada, muito bem adaptada e que nasce com capacidade de sobrevivência. Outros mamíferos menos evoluídos como por exemplo os coelhos ou os ratos, têm gestações curtas, com ninhadas de crias, mal adaptadas em que umas sobrevivem e outras são eliminadas por selecção natural
A espécie humana, devido à evolução do sistema nervoso central e aumento de dimensões do cérebro, teve de encontrar estratégias para garantir a sua sobrevivência já que seria impossível a criança completar a maturação dentro da barriga da mãe.
A solução foi antecipar o trabalho de parto, gerando uma cria ainda incompleta, dependente e mal adaptada, continuando a sua maturidade fora do ventre materno. Assim, a gravidez humana tem 9 meses dentro da barriga e completa os restantes 12 meses “extra-uterino”. Este período em que a criança ainda não deveria ter nascido é um período de enorme vulnerabilidade e dependência. Enquanto o veado ao nascer sabe comer, deslocar-se e comunicar, o nosso bebé é muito mais frágil e imaturo e só completa o mesmo nível de autonomia a partir dos 12 meses, quando o bebé começa a andar, a falar e a ser capaz de se auto-alimentar.
Isto tem implicações físicas mas também emocionais e percebe-se assim que seja fundamental a proximidade da mãe (e daqui se percebe que nos países desenvolvidos a licença de maternidade não seja inferior aos 12 meses…) e que a pressão das sociedades ocidentais de estimular precocemente a separação das crias e das mães e a “independência” do bebé (como ter o seu quarto, querer que se entretenha sozinho, iniciar creche,…) pode ser contraproducente e levar a maior insegurança e dificuldades emocionais e mesmo físicas (cólicas, problemas de sono, birras, ansiedade,…).
Se o bebé não pode estar esses 12 meses na barriga da mãe deverá pelo menos estar o mais próximo dela possível! A proximidade física e emocional da mãe ajuda a promover melhores cuidados alimentares, confere protecção física, regulação térmica, regulação emocional, e a interacção continuada promove um desenvolvimento completo e harmonioso.
* Mónica Pinto é pediatra do Desenvolvimento, presentemente no Centro de Desenvolvimento do Hospital D Estefânia, na Clínica Gerações e Centro Diferenças. Tem 40 anos e é mãe de dois filhos, com 7 e 5 anos.
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