Por João Farela Neves*
Falar de crianças é falar sobre o mundo, os seus maiores encantos e angústias. Vivemos todos os dias para as recordarmos e fazermos felizes. As crianças não serão nunca pequenos adultos, são antes meninos e meninas com o seu lugar perfeitamente definido junto de nós.
Fernando Pessoa ilustrava com mestria a sua inocência e pragmatismo:
A CRIANÇA que pensa em fadas e acredita nas fadas.
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
“A criança que pensa em fadas”
Fernando Pessoa, Alberto Caeiro
Todos nós criámos mentalmente o que é ser uma criança. Quais as suas capacidades, funções, desígnios e direitos. Gostaria de recordar a visão de sete reconhecidos directores de cinema que filmaram curtas metragens sobre crianças, criando uma obra fantástica. Em Cidades Invisíveis cada um deles ilustra possíveis infâncias da região do globo de onde são originários, recriando cenários dantescos e inimagináveis. Apesar da dificuldade que sinto nesta selecção, gostaria de vos remeter para as curtas metragens de Chafer, Spike Lee, Katia Lund e John Woo. O primeiro transporta-nos para um cenário de terror no meio da Guerra civil de um qualquer país Africano. Spike Lee faz um retrato soberbo e devastador de uma criança HIV-positiva que sofre a imensa crueldade dos seus pares. A perspectiva brasileira de Kátia Lund angustia-nos com permanente luta pela sobrevivência de duas crianças. John Woo encanta-nos com a história emocionante de duas crianças diametralmente oposta nas suas condições de vida mas unidas na sua fantasia.
A recordação deste filme desperta certamente em todos aqueles que vivem e trabalham com crianças um sentimento de dever inacabado. Temos, todos, um enorme caminho para andar. Nada melhor que percorrê-lo harmoniosamente em conjunto pela felicidade das crianças.
* João Farela Neves é pediatra na Consulta de Imunodeficiências Primárias do Hospital D. Estefânia
Obrigada, João, por relembrares "Crianças Invisíveis". Dolorosamente genial e imperdível. Serão elas invisíveis ou é o mundo, em cada um de nós, que não quer "vê-las"?
ResponderEliminarQue todos os pediatras pensassem assim, que todos eles tivessem tamanho coração.
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