terça-feira, 6 de abril de 2010

Obrigada Medicina. Obrigada Destino.

Ninguém gosta de ver um filho doente. E falo das doenças triviais, banais, nada de especial, que sabemos que fazem parte da infância e que são um mal necessário, mas que não deixam de ser uma chatice. A verdade é essa.
A mim bastam-me as viroses, bronquiolites, febres repentinas e afins para andar durante esses dias de respiração sustida, quase em piloto automático, à espera que passe e se vão cumprindo as etapas previstas rumo à recuperação total. “Ao terceiro dia a febre começa a espaçar, ao quarto dia já deve estar mais bem-disposto, a tosse demora um bocadinho mais, mas se está a comer é bom sinal…”.
Dou por mim a repetir estes timings como se fossem infalíveis, garantia de qualquer coisa, como se fossem um mantra que pela repetição se torna realidade. E torna. A verdade é que, na maior parte das vezes, as coisas se resolvem rapidamente e sem problemas. Passam-se umas noites em claro, limpam-se vomitados a meio da noite, dá-se uso à maquina dos aerossóis e está feito. Pelo menos até à próxima.

Já me conformei com este culto da paciência que implica a época das viroses. Não há muito a fazer senão esperar que passe. A alguma prescrição médica, junta-se uma dose extra de mimo que ajuda sempre. Também sou um bocadinho avessa a encharcar as crianças em medicamentos. Vale-me um pediatra pouco interventivo e confiante nas leis da Natureza. Tranquilizador. As corridas para a urgência são quase inexistentes. Tal como um oráculo sapiente, os seus prognósticos cumprem-se rigorosamente. Eu fico sempre surpreendida, como se assistisse a um milagre da previsão do futuro. Como se tivesse consultado o curandeiro da aldeia e ele acertasse em tudo só por interpretar as nuvens, ou sinais de fumo, ou o que quer que seja que os curandeiros usam para os seus diagnósticos.

Mas quando há percalços, quando no dia em que o bebé devia melhorar e piora, quando a febre, em vez de ceder, dispara, eu, que gosto de pensar em mim como uma mãe semi-new-age regresso ao natural-crianças-descalças-e-a-comer-terra, sinto-me repentinamente grata por ter uma urgência onde recorrer, com aerossóis e raio x e receitas para aviar na farmácia.

E só ter que esperar 24 horas para que o antibiótico comece a fazer efeito e o bebé volte a querer brincar e gatinhar e comer. Que deixe de gemer e tenha os olhos colados com ramelas infectadas e secreções amarelas a entupir-lhe o nariz e a afogar-lhe a garganta, o peito a chiar como uma locomotiva. Que haja uma ajuda farmacológica para que ele não tenha que passar mais um dia disto do que o necessário. Que a sociedade civilizada que eu tantas vezes critico, possibilite estes recursos que noutros lados do planeta são inexistentes.
E penso nas mães e pais que não podem fazer mais nada senão velar os bebés a noite e pôr-lhes panos húmidos na testa para baixar a febre. E esperar. Esperar que as crianças superem, o que sabemos que nem sempre acontece. Nos sítios onde não há médicos ao virar da esquina, nem hospitais, nem farmácias de serviço. Muitas vezes nem água potável.

E sinto-me grata por viver num país onde há tudo isto. Obrigada Medicina, obrigada investigação científica, obrigada sociedade civilizada, com todos os teus defeitos.
E obrigada Destino, por teres feito os meus filhos nascer do lado certo do mundo.

6 comentários:

  1. Bem dito, sim senhora!

    Paula

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  2. Boa noite, partilho da mesma opinião em quase tudo e sinto que mesmo perante a impotência de ver sofrer um filho com uma doença para a qual ainda não descobriram a cura, mesmo assim, acredito que estamos melhor aqui do que em muitos outros locais do mundo, onde certamente não teria o meu tesouro vivo e na esperança de que um dia o sol também brilhe para ele!
    Beijinhos
    http://salgadosanjos.blogspot.com

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  3. anjos, de coração: desejo-vos tudo de bom. que o caminho se torne mais fácil. torço por vocês. muitos beijinhos, constança.

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  4. Ainda bem! Também fico assim "suspensa" enquanto estão doentes, ficamos todas, acho eu!
    Tu escreves mesmo bem! Obrigada.
    Beijinhos grandes.

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