segunda-feira, 5 de abril de 2010

Um sítio para viver




Em Away We Go um casal, Verona e Burt, nos meses que precedem o nascimento do primeiro filho, procura um local onde este possa crescer. Visitam os avós paternos, a tia materna, uma prima, amigos e o tio paterno. Viajam de Phoenix para Tucson no Arizona e depois para Madison, Montreal e Miami.

Encontram vários tipos de família: a família apocalíptica da antiga chefe de Verona, a família de filhos adoptados e pais secretamente amargurados pela esterilidade, a família destroçada pelo abandono da mãe. Em Madison, Wisconsin, a visita a L.N., a mulher que não usa carrinhos de bebé, um estereótipo quase repugnante da família que desde o new age à contemporaneidade usa os modos de vida alternativos com a convicção dos convertidos. O filme desenvolve-se com a ligeireza de um road movie e é aconselhável aos que pretendem constituir família e enfim a todos os que se preocupam em controlar os genes egoístas e dar à vida algum sentido.

Os desempenhos são fantásticos. O amor entre Verona e o homem com quem ela nunca casará nem abandonará é comovedor, com a sábia retracção dela e a ingénua bonomia de Burt.
Alguns momentos são grandiosos, como a noite em que Rona transforma Mr Tambourine Man numa canção de embalar dedicada à sobrinha, no rescaldo de um abandono cuja dimensão esta ainda não conhece e logo a seguir, quando, debaixo do céu de Miami, o casal sela promessas deitado num colchão de saltos.

O filme é ambíguo, em momentos parecendo caricatural e bem pensante, mas atormentado com as cicatrizes da Beleza Americana e de Revolutionary Road , dois dos filmes anteriores de Sam Mendes sobre a família americana.

Numa cena, as duas irmãs olham para Burt, no fundo de campo, e Grace diz a Rona: tiveste sorte , tens um bom homem. Nesse momento Burt cai, enquanto faz voz grossa para tentar vender apólices, por telemóvel, a sexagenários.

A lição de Away We Go, num ecrã perto de si, é : o caminho faz-se a andar. E ainda: se formos juntos qualquer sítio serve, mas o melhor é aquele que os nossos avós escolheram e onde a nossa Mãe cresceu.

1 comentário:

  1. Excelente filme! Bom para todos os pais preocupados com o ambiente em que os seus filhos vão (ou estão a) crescer. Muito interessante trazer o tema a este espaço!

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