segunda-feira, 3 de maio de 2010

As curvas de crescimento da criança

Por António José Guerra*

Os boletins individuais de saúde incluem tabelas de percentis referentes ao peso, comprimento/estatura (0 aos 20 anos), perímetro cefálico (0 a 36 meses) e índice de massa corporal (2 a 20 anos). A evolução da curva de crescimento estaturo-ponderal é um bom indicador do estado de nutrição e saúde da criança. No entanto, o modo como a curva progride ao longo da idade é por vezes gerador de ansiedade nos pais que gostariam de ver as curvas dos seus filhos evoluírem de preferência em percentis mais elevados do que aqueles em que ocorrem. Há alguns aspectos que vale a pena conhecer e que poderão tranquilizar os pais na maioria das situações.

Em primeiro lugar as curvas de percentis não são mais do que o modo como uma determinada população de crianças cresceu (no caso dos nossos boletins individuais de saúde as curvas foram construídas com base na avaliação de crianças norte-americanas avaliadas em vários inquéritos nacionais realizados entre as décadas de 70 e 90). As curvas representam assim, a distribuição percentual de valores referentes a parâmetros corporais (peso e estatura) de uma determinada população de crianças. Dizer que uma criança tem um comprimento no percentil 25, significa que na população usada como referência, 75 em cada 100 são mais altas que a criança em causa.

O segundo aspecto que importa conhecer é que o crescimento é um processo dinâmico e é portanto imprescindível ter uma ideia da evolução da curva, ou seja do modo como ela progride ao longo do tempo. Uma progressão estável (sensivelmente paralela às curvas de percentis) traduz um crescimento normal. Isso significa que uma criança no percentil 25 ou mesmo inferior pode não levantar qualquer problema, ao contrário de outra criança num percentil superior, por exemplo 75, mas que está a evoluir num sentido de cruzamento superior ou inferior das curvas de percentis.

O terceiro ponto é que as curvas tem o aspecto liso e quase que traçado a compasso porque tal resulta de manipulação matemática. Em boa verdade cada criança evolui geralmente ao longo do crescimento com uma curva em forma de linha quebrada, o que é normal, desde que a tendência seja no sentido grosseiramente paralelo às curvas de percentis como referi (isto é, desde que a tendência não seja no sentido do cruzamento de percentis).

Em quarto lugar, deve haver uma harmonia entre o crescimento do peso e da estatura. Como é de todos conhecido, a obesidade (com uma prevalência crescente também em Portugal) não é mais do que uma situação resultante da existência de um peso excessivo para a estatura. A sua prevenção é a melhor atitude, daí a grande relevância de os boletins de saúde infantil incluírem agora as curvas de percentis referentes ao índice de massa coropral, que não é mais do que uma relação peso para a estatura, (neste caso peso em Kg sobre estatura em metros2). O que importa é que a criança cresça proporcionalmente relativamente ao peso e estatura em percentis próximos, sendo sempre desejável que quando uma dos parâmetros tem ascendente sobre o outro, seja a estatura a situar-se num percentil superior relativamente ao peso.

O quinto aspecto que importa alertar relaciona-se com uma variação de amplitude das curvas de crescimento, superior à distância entre dois canais de percentis contíguos (ex, 25 e 50). Se essa oscilação é negativa (desaceleração de crescimento) poderá haver uma situação de ingestão alimentar insuficiente ou, o que será mais frequente, alguma situação de patologia (mesmo na ausência de sintomas). Se pelo contrário a variação é positiva, o que ocorre entre nós frequentemente com o peso, o que estará em causa será um suprimento alimentar que ultrapassa as necessidades energéticas da criança. É apenas nessas situações que será necessário identificar a causa da alteração do crescimento e intervir de modo a corrigir o mais precocemente possível o desvio encontado.

Sexto e último, as necessidades alimentares são uma característica específica e exclusiva de cada criança, ou seja para duas crianças da mesma idade crescerem de modo idêntico (mesmo peso, mesma estatura e mesma composição corporal), as suas necessidades alimentares são diferentes. Quer isto dizer que mesmo que os pais entendam que a criança come muito pouco, mas se as curvas de crescimento evoluirem a uma velocidade normal, não haverá seguramente nenhum problema. Mas se a criança comer muito e as curvas evoluirem inadequadamente, por defeito ou por excesso, então é aí que se tornará necessário intervir.

Em resumo as curvas de crescimento são uma ferramenta muito importante que nos permite apreciar o estado de nutrição e crescimento das crianças e que devem ser sempre avaliadas e interpretadas ao longo de todo o ciclo de vida pediátrico.

* António José Guerra é pediatra, especialista em nutrição infantil, e Professor da Faculdade de Medicina do Porto.

5 comentários:

  1. Boa tarde,
    Gostei muito deste artigo. Gostaria de pedir autorização para publicar no blo BabySOl. Aguardo a vossa autorização.
    Obrigada e até breve,
    Solange Burri

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  2. Pareceu-me oportuno partilhar convosco o trabalho desenvolvido na turma do 3ºBR.
    Além de trabalharmos os pesos e as alturas matematicamente, trabalhamos a aceitação do outro e como melhorar os hábitos alimentares...

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  3. E quando comem bem, quase tanto como os adultos da casa, não têm qualquer problema fisiológico e mesmo assim não engordam?...

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  4. não sou médico, mas há um ponto qwue não me parece correcto quiando refere que deve a estatura ter um percentil superior ao percentil do peso???? como assim? nada destes 2 indicadores reflete o nivel e massa corporal, são curvas que representam o que se passa na população mundial, ou será que esta população é obesa? isto é estar no percentil 25 de altura quer dizer que 75 em 100 são maiores e se estiver em na curva 75 do peso quer dizer que 25 em 100 são mais pesados, só isso!!! nenhum destes percentis compara o nivel de massa corporal

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