quarta-feira, 19 de maio de 2010

Planeta Tangerina


Esta revelação não tem interesse nenhum. É daquelas coisas que uma menina diz aos pais, como se fosse importante, e a que ninguém liga. Eu não gosto de tangerinas. Não gosto do nome, designando uma habitante de uma cidade árabe onde nos perdemos e o acolhimento oculta uma armadilha. Não gosto do cheiro, que perdura, e se agarra à pele e indica que ali esteve alguém a comer. Não gosto das cascas, nem da palavra casca. Nem de gomo ou da ideia de gomo. Nem dos fios brancos que os separam. Nem das sementes, tão abundantes, esse desperdício de embriões excedentários.
Dito isto, que releva da psicologia das profundidades, devo confessar que há uma Tangerina especial. Uma que nunca me enganou. Ouvi falar dela numas sessões literárias que se organizavam uma vez por mês, na cidade onde vivo, e acabaram, como quase tudo acaba na cidade onde vivo. E gostei logo dela, da Planeta Tangerina, a editora dos livros bonitos, para ler às crianças. Livros especiais. Delicados, diferentes. O livro do pai, o livro da mãe. O livro que ensina aritmética, porque tudo o que nos rodeia é contável e de muitas maneiras. O livro da autoestrada e da EN. Do avô e do neto. Do mesmo minuto nas várias partes do nosso mesmo mundo. Das palavras com que tomamos conta dos dias deles: depressa devagar.
Os mais velhos diziam: são bonitos mas as crianças não lhes vão ligar. Experimentei: as crianças ligam-lhes. Como os adultos na sessão literária.
Diziam: são livros bons para os pais. E é verdade. São livros para os meninos e meninas que há nos pais e nas mães. Que é onde os filhos olham e se espantam. E ronronam de prazer. E ficam quietinhos a escutar. E querem contar também, à sua maneira.
A Isabel Minhós Martins, a Madalena Matoso, a Yara Kono, o Bernardo Carvalho, a Carolina Cordeiro e a Cristina Lopes são os talentos do Planeta Tangerina. Fazem tudo bonito e com cores fascinantes. Até os selos, os timbres que se colam nos envelopes a dizer CONTÉM LIVRO. E estes envelopes contêm livros do Planeta Tangerina.
Também fazem agendas. A agenda azul de 2010 do Sr. Rufino, da Rufino & Filhos desde 1948, Drogaria, Ferragens, Bricolage, que é um senhor muito melhor que o senhor Moleskino e nunca se há-de vulgarizar, porque as pessoas importantes não hão-de querer os dias assinalados por canhões de sanita ou bichas de chuveiro.


Planeta Tangerina
www.planetatangerina.com

3 comentários:

  1. Pois eu gosto de tangerinas, gosto muito do Planeta Tangerina e gosto ainda mais de ler as suas palavras sobre todas estas e as outras coisas. Que bom vê-lo de novo por aqui! Paula

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  2. Ouso achar que é obrigatório gostarmos das histórias que contamos aos nossos filhos, dos livros que lhes damos. Oferecer um livro é ainda para mim o presente mais pessoal de todos. É talvez o único presente em que acho que é mais importante nós gostarmos dele do que a pessoa que o vai receber. Estamos a dar palavras e mundos, viagens e tesouros. Um livro é uma coisa muito séria e importante. E estes são muito bonitos. Constança

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  3. Vou procurar. Vamos ver quem ronrona mais, se os filhos se os pais.

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