quarta-feira, 30 de junho de 2010

Seis em cada 10 crianças já tiveram experiências negativas na internet

29/06/10, Estudo "Norton Online Family Report"


De acordo com o estudo "Norton Online Family Report", uma em cada 10 crianças já foi alvo de tentativas de estranhos de as conhecerem na vida real, enquanto uma em cada quatro já viu imagens de violência ou nudez na internet. No entanto, menos de metade dos pais tem conhecimento destas experiências negativas dos filhos.

O relatório foi realizado com base num inquérito feito em Fevereiro deste ano em 14 países de todo o mundo, tendo sido questionadas mais de 2.800 crianças e 7 mil adultos em diversos países de todos os continentes, mas que não incluiu Portugal.

A análise determinou também que a maior parte das experiências negativas tem como base tentativas de estranhos de os recrutarem como "amigos" nas redes sociais (41%) e a contaminação dos computadores com vírus recebidos em downloads (33%). Essas experiências negativas têm um “profundo impacto emocional” nos mais jovens, sendo que um quinto das crianças se sente embaraçado e arrependido.

Entrevistado pela agência Lusa, o fundador do projecto MiudosSegurosNa.Net, Tito de Morais, defendeu que prevenir estas situações “é um trabalho de toda a sociedade”, mas que deve começar pelos pais, estando, por exemplo, alerta para pequenos indícios. “Muitas vezes há sinais simples: a frase que ele deixou como pensamento do dia ou a frase que escreveu como mensagem de status no Messenger”, adiantou, lembrando que isso torna ainda possível “ver quem faz parte da rede deles [e] quem são os "amigos"”.

fonte: Lusa

Nunca é demais pensar nestas coisas...

terça-feira, 29 de junho de 2010

Panda, odeio-te. Tu sabes porquê.







Eu não acredito em fundamentalismos. Mesmo. Activismos a torto e a direito, movimentos anti-isto, contra-aquilo, não contam geralmente com a minha assinatura.



Por essa razão, lá em casa não há regras muito rígidas e convive-se facilmente com as coisas que impingem à criançada sem grandes proibições. Deixo a televisão ligada e deixo-os ver coisas aberrantes e/ou sem graça nenhuma como os Mecanimais ou o Ruca. Não percebo a piada mas eles parecem gostar e é esse o objectivo. Eu, pessoalmente, gosto mais de ver os filmes da Barbie, o Pequeno Ponei ou a Docinho de Morango.



Sem stress. Eu papei tudo isso em miúda e não me fez mal nenhum. Ainda hoje, quando preciso de uma caneta a meio de uma reunião de trabalho, o mais provável é que ela saia das profundezas de um estojo da Hello Kitty e que escreva em azul bebé com brilhantes e cheiro a amora.



Deixem-me explicar. Perceber (e trabalhar com) as armadilhas do marketing é saber que podemos isolar as nossas crianças de todas estas tralhas coloridas e comerciais mas vai haver um dia, há sempre esse dia, em que vão chegar da escola e perguntar porque é que todos os meninos têm uma mochila-com-DVD-incorporado-e-GPS-e telemóvel-que-brilha-no-escuro e eles não. Mais valia estarmos à espera e ter a estratégia preparada com tempo.




Enfim. Isto para dizer que eu acredito mesmo é no livre acesso e estimulação do sentido crítico. De tudo um pouco e de algumas coisas em menor quantidade. Até ver, tem resultado. É mais divertido fazer recortes na mesa da cozinha ao fim da tarde do que estar especada em frente ao Canal Panda. É mais giro sair ao sábado do que papar os DVDs das Winx. Pois ela sabe que eles estão lá. Mas também sabe que o mundo está cheio de coisas mais interessantes para fazer.



O que me leva ao verdadeiro tema deste texto. No sábado estivemos no Festival Panda, esse grande evento para a criançada que vai já na terceira edição e cujos anúncios têm dado em repeat nos últimos 2 meses. Mais omnipresente que o Festival Panda, talvez só mesmo as vuvuzelas… e mesmo essas, acreditem, baixaram o seu lugar no pódio dos ódios de estimação para um honroso segundo lugar depois deste fim de semana.



Pois que seria de pensar que foi a menina que pediu para ir ao Festidal Panda. Mas não. Foi a mãe que achou que este ano podíamos levar os meninos. Fazíamos a surpresa. Levávamos o bebé também que acha graça às músicas e bate palminhas. Fazemos umas sandocas e comemos na relva. Vamos de manhã pela fresquinha. Gastamos para cima de 50 euros, mas o que é isso comparado com o brilho nos olhos dela quando de repente der por ela e estiver no Festidal Panda.



Burra. Mil vezes burra.
Seria de pensar que, no mínimo, e já que os bilhetes não eram propriamente dados, se conseguisse pelo menos estar no recinto. Que houvesse umas sombritas, umas coisas para as crianças fazerem. Que houvesse birras na hora de ir embora e pedidos lacrimejantes para ficarmos só mais cinco minutos.



Pois que doce ilusão a minha. Que crassa falta de experiencia em eventos para massas infantis e respectivos agregados familiares.



Houve o mega-concerto da Banda do Panda e seus amigos. Um palco de fazer inveja a muitas bandas de carne e osso, ao melhor estilo Rock in Rio, onde mascotes de peluche, envergadas por pessoas que devem ter feito muito mal a alguém numa vida passada, tiveram honras de estrelas e gritos apoteóticos. Milhares de criancinhas à torreira do sol saltaram e aplaudiram as músicas debitadas por um CD fanhoso. Das 10h30 às 12h30. Duas horinhas. Pleno horário vermelho. Sem um toldo, uma arvorezinha, uma sombrita. Nada. A alternativa era o espectáculo da tarde entre as talvez mais recomendáveis 16h30 às 18h30. Mas nós achámos que de manhã estava menos gente e era mais fresquinho.



Estivemos uns minutos, o suportável. Fugimos para as pretensas diversões do recinto. Meia dúzia de espaços com as habituais pinturas faciais, jogos diversos, insufláveis. Tudo patrocinado por marcas que distribuíam leites, papas, sumos, farturas (!)e merchandising diverso, a quem conseguisse resistir às longas filas e tivesse uma vocação especial para estar de mãozinha esticada à espera da generosa oferta.



Nova fuga.
Um sítio à sombra. Um sítio à sombra. Um sítio à sombra.
Lá arranjámos uma árvore piedosa e um bom m2 de relva para sentar. Ao longe víamos as criancinhas nos insufláveis de borracha sob o sol do meio dia.


Saltavam, coitadinhas, acredito que mais pelo medo de fazer uma queimadura de terceiro grau nas pernas e no rabo do que pela diversão da coisa.



Os miúdos estavam cansados, birrentos. Olhei em volta. Parecia o estado geral de todos. Birras, irritação, calor, desidratação, filas de gente a acotovelar-se. Parece o metro em hora de ponta a uma terça-feira. Parece mesmo. Mas junte-se um carteirista hábil a sacar-nos uma nota de 50 euros do bolso para a analogia ficar perfeita.



Odeio-te, Panda”, disse entredentes. Os altifalantes do recinto replicaram “O Panda é Fixe!”.




Reformulei: “Odeio-te, organização deste evento”.
E fui de enfiada: “Por pensares que as crianças não são mais que meros sorvedouros pedinchões dos euros dos pais, por fazeres os pais acharem que os vão fazer felizes ao trazerem-nos a um evento onde a organização não quis desperdiçar uns trocos numa porcaria de uns toldos para que (não é esse o objectivo?!) eles pudessem de facto brincar, por teres escolhido um local sem condições nenhumas, por não teres gasto um tostão nas áreas de diversão e tudo passar por marcas e mais marcas e mais marcas. Por achares que as crianças não são mais que meros macaquinhos que basta pôr a saltar e a gritar refrões idiotas e os pais meros gananciosos à cata do suminho grátis para darem o dia por bem passado.”



Acima de tudo, concluí, “Odeio-me”. Por ter caído na esparrela. Não é o tempo perdido nem os euros gastos. É o ter tido, eu que até trabalho na área, a ilusão de que quando se organiza um evento para crianças um dos critérios devia ser…o bem-estar das crianças.



Depois do Festival Panda, haverá em breve e no mesmo local um evento para mamãs. Uns dizem que é porque o Parque dos Poetas tem bons acessos, etc, etc. Outros dizem que é porque leva gente a granel e dá para lá pôr bancas a rodos. Que se lixe se tem condições.


Pois quanto a mim, estou decidida.


Faz parte de uma conspiração.


Depois de tentarem fritar as criancinhas, agora estão de olho nas grávidas.


Depois não digam que eu não avisei.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A criança e a mentira

Por Ana Rita Monteiro*

Quando as crianças ocultam a verdade ou mentem, os pais, preocupados, recorrem com frequência à consulta de psicologia.

A compreensão da verdade está relacionada com o desenvolvimento infantil. Antes dos 3 anos de idade as crianças consideram que os adultos, nomeadamente os cuidadores, conseguem ler os seus pensamentos por incompreensão da sua privacidade. É portanto, por volta dos 3-4 anos, período coincidente com uma forte imaginação, que as mentiras surgem. Nesta altura, a criança percebe que o adulto não tem acesso ao que pensa e testa a aquisição de novos conhecimentos através da narração de histórias ou simplesmente procura justificações para as suas acções em motivos fantasiados, repletos de imaginação. Por exemplo, justificando a desarrumação do quarto culpando o lobo mau que desarrumou os brinquedos. A separação entre realidade e fantasia pode ser ténue e portanto as mentiras podem surgir num contexto de actividade imaginativa que não deve ser punida; os amigos imaginários são um óptimo exemplo.

Dos 4 aos 6 anos mentem com maior frequência, aos 4 ao ritmo de 2 horas e aos 6 de 90 minutos. Nesta altura, com um vocabulário mais rico e melhor compreensão do comportamento dos outros a mentira torna-se mais complexa e sofisticada. Nos primeiros anos escolares a criança deseja agradar os pais mais do que fazer o que é correcto surgindo frequentemente mentiras que permitem ir ao encontro das expectativas parentais.

Aos 8-9 anos a mentira surge por outros motivos uma vez que a diferenciação entre realidade e fantasia já se encontra suficientemente estruturada. Nestas faixas etárias, as histórias elaboradas parecem credíveis, são relatadas de forma entusiástica mas porque os torna alvo de atenção à medida que a mentira é contada. Este pode ser um motivo de preocupação para os pais dado que são indicadores do uso de meios inadequados para a obtenção de atenção e valorização.

As mentiras podem ainda surgir como resultado de uma baixa auto-estima; por um desejo acentuado de que esses fossem factos reais ou de forma a evitar futuras punições (por exemplo, mentir acerca de uma classificação de um teste de forma a manter as actividades programadas para o fim de semana).

Os adolescentes podem mentir para encobrir um problema sério tal como o abuso de álcool ou drogas escondendo repetidamente a verdade acerca de onde estiveram, com quem e o que fizeram. No entanto podem apenas fazê-lo como forma de protecção da crescente necessidade de privacidade, permitindo-lhes que se sintam psicologicamente independentes dos seus pais.

Perante esta problemática os pais devem:

- Conversar calmamente não acusando nem rotulando a criança de mentirosa.

No entanto, é indispensável que perceba a importância de dizer a verdade, reforçando-se que é a única forma de manter a confiança e segurança nos outros;

- Mostrar à criança que compreendem que algumas mentiras são desejos. Por exemplo, perante um divórcio e a ausência frequente do pai se a criança verbaliza que todos os dias vão passear juntos, a mãe poderá dizer: “Parece que estás com saudades do papá e gostavas de passar mais tempo com ele…”

- Ajudar a estruturar a diferença entre realidade e fantasia em crianças mais novas dizendo, por exemplo: “Essa foi uma óptima historia, fazes histórias muito engraçadas…”;

- Falar abertamente da forma como lidariam com comportamentos incorrectos, caso considerem que a mentira surge como um receio de punição;

- Valorizar e mostrar satisfação perante a verdade;

- Respeitar a privacidade do adolescente.

Ainda de maior importância é o exemplo dado pelos cuidadores. A relação com os filhos deve ser sempre pautada pela verdade; as promessas não devem ser quebradas caso contrário irão parecer mentiras aos olhos das crianças.

Caso a mentira assuma um padrão repetitivo e se transforme no meio privilegiado para lidar com as exigências dos pais, professores ou do grupo de pares, é aconselhável a procura de ajuda especializada.



*Ana Rita Monteiro é Psicóloga Clínica

quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Ele ainda é pequenino... isto passa" (?)

“Ontem o Tiago chegou a casa e foi o habitual... birra para ir para a banheira, para sair de lá, para vestir o pijama, para ficar na mesa, para ir para a cama... birra por tudo e por nada! Às vezes acredito que o vocabulário dele se reduz à palavra NÃO; diz não a tudo! Não quero sopa; não arrumo os brinquedos; não quero brincar a isto; não gosto de ti, és má!

O Tiago só tem 4 anos, mas valem por muitos e por todos os irmãos. Passa os dias nisto, entre birras, a dizer não, em guerras com o mano mais velho, a desarrumar a casa de uma ponta à outra, a andar de um lado para o outro e a trepar para o nosso velho sofá... No Jardim de Infância, todos os dias a educadora tem uma queixa nova, por vezes acho que faz coleção dos feitos negativos do meu Tiago... Quando o vou buscar até evito chegar muito perto, para não ter de ouvir as lenga-lengas do costume. O Tiago bateu… O Tiago gritou… O Tiago fugiu… O Tiago, o Tiago, o Tiago!

Não aguento mais! Depois de um dia de trabalho cansativo, quando chego a casa apetece-me logo fugir! Ele está sempre a contrariar-me, a testar-me. Só descanso quando está doente, é a única altura em que fica mais calmo...

Às vezes penso se será parecido comigo ou com o pai, a minha sogra diz que o meu marido também era rebelde em pequenino; ou se a culpa será nossa... Dou voltas à cabeça e lembro-me dele sempre assim. Com uma personalidade muito forte, desde bem pequenino. Aliás, os primeiros meses foram um verdadeiro inferno, chorava sem parar! Depois quando começou a andar, parecia que tinha pilhas duracel! Lembro-me que um dia estávamos a sair de casa para a escola e ele insistiu que queria uma garrafa de água, não parou até que eu lhe desse a água... sei que fiz mal, mas já não aguentava. De manhã tenho o tempo contado para entrar no trabalho.

O Tiago não é só isto, mas às vezes só vejo isto... Quando estou com a ‘temperatura mais baixa’, consigo brincar com ele à maneira dele e ele fica contente... depois abraça-me e dá-me um daqueles beijos todos repenicados, que as mães como eu adoram e de que tanto se orgulham!”


Esta é uma entre muitas histórias que conhecemos todos os dias no Projecto Anos Incríveis. Histórias de meninos, mas também de meninas; de pais que sabem que as crianças não vêm com manual de instruções e querem apenas saber se estão no caminho certo ou errado; histórias de pais preocupados com o futuro, com a entrada na escola; histórias de pais com pouca esperança, que acham que os filhos são pequenos “diabinhos” e a quem alguém sugeriu o programa Anos Incríveis; e também histórias de pais desesperados, que querem ajuda.

Contactos:



http://projectopaismaesincriveis.blogspot.com


anosincriveis.coimbra@gmail.com


Andreia Azevedo e Tatiana Carvalho Homem– Psicólogas, Doutorandas e Investigadoras


Maria João Seabra Santos e Maria Filomena Gaspar– Professoras da FPCEUC e Coordenadoras Científicas do Projecto

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Filosofias úteis: o seu nome aqui!

Férias é altura de deslocações o que, com crianças pequenas, significa invariavelmente deslocação de tralhas inúmeras. Que roupa levar, o que é imprescindível, toma banho na banheira das férias ou não, como se entretém no carro, e quando quer fazer cocó a meio da viagem e estão 5 km de fila parada... ?!

Como é que as mães e pais que lêem o Bebé resolvem estas pequenas alegrias fisiológicas, e não só, dos seus petizes?

Pois a verdade é que muitas cabeças pensam certamente melhor que uma só.
O Bebé Filósofo precisa de dicas, textos úteis e truques partilhados. Vamos publicando durante o Verão estes conselhos que valerão mais que ouro... valerão umas férias mais descansadas!

Contributos a partir de agora para o mail sociedadepediatrica@gmail.com e uma breve apresentaçãozinha do autor da dica enviada, para que todos possamos agradecer-lhe mentalmente quando pusermos em prática o seu conselho, numa qualquer situação mais apertada.

Vamos a isso?

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Documentos médicos nas matrículas escolares

Há dois anos, a Sociedade Portuguesa de Pediatria tomou uma posição pública sobre alguns documentos e atestados médicos para a matrícula escolar de crianças, exigidos especialmente em creches e infantários particulares ou IPSS. Embora na altura houvesse algumas manifestações das entidades competentes em promover algumas alterações a estas exigências, tanto quanto se sabe, estas situações poderão continuar a ocorrer. Desse modo, é bom alertar os pais de que estes documentos pedidos pelas escolas, pouca ou nenhuma utilidade têm, sendo até desprovidos de sentido. Convém ler:  

Comunicado da direcção da Sociedade Portuguesa de Pediatria

Todos os anos, aquando das matrículas escolares os pais defrontam-se com uma multiplicidade de exigências burocráticas, certamente respeitáveis, mas cuja finalidade não é imediatamente compreensível.

Uma delas é a declaração médica de robustez física, ausência de doenças infecto-contagiosas e cumprimento do Plano Nacional de Vacinas.

A frequência de um estabelecimento escolar é um direito das crianças e das famílias e, durante parte da infância e adolescência, uma obrigação. Os pais devem ser responsáveis pela saúde dos filhos, e as crianças e adolescentes devem ser examinadas com a periodicidade recomendada pelo Boletim de Saúde Infantil. O cumprimento do esquema vacinal é um motivo de orgulho dos nossos Cuidados Primários de Saúde. A comunicação dos médicos com as escolas é desejável. O que se contesta é a utilidade de, periodicamente, os pais terem de entregar para um qualquer depósito escolar, uma declaração vazia de conteúdo e de sentido sobre a qual a SPP já antes se tinha pronunciado, nomeadamente através da sua Secção de Pediatria Ambulatória.


Alguns estabelecimentos de ensino aumentaram a parada e, sempre invocando um despacho normativo, pedem agora o grupo sanguíneo das crianças a matricular. Esclarece-se que este requisito é, mais uma vez, desprovido de sentido.


O conhecimento do grupo sanguíneo não confere qualquer vantagem ao seu portador, mesmo em situação de emergência. A administração de sangue é de competência hospitalar e os laboratórios administram-no, quando necessário, após provas de compatibilidade, ou, em situações muito raras de extrema urgência, recorrem a sangue compatível. Por outro lado a determinação do grupo exige a colheita de sangue, experiência que deve ser reservada às situações em que haja melhor indicação.

Finalmente, o grupo sanguíneo representa um dado pessoal, que cabe aos pais e à criança decidir quando, e em que circunstâncias, deve ser conhecido.


A Sociedade Portuguesa de Pediatria alerta os pais para a ilegitimidade destes pedidos aquando das matrículas escolares e recomenda aos médicos que não emitam declarações sem razões plenamente justificadas pelos interesses das crianças.


Direcção da Sociedade Portuguesa de Pediatria

(originalmente divulgado a 16 de Junho de 2008)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

TPC nas férias: sim ou não?



Por Maria José Araújo*


O 3º período está a chegar ao fim e os pais começam a ficar apreensivos. Será que o meu filho vai esquecer o que aprendeu durante o período lectivo?

Como todos sabemos, à maioria das crianças são propostos como TPC ou TPF, tarefas que incluem cópias de textos, repetições de palavras, fichas e problemas que na maior parte das vezes se limitam a reproduzir os conteúdos dos livros ou o que eventualmente foi feito e explicado nas aulas. Este tipo de trabalho, é sentido pelas crianças como um trabalho “excessivo” e “repetitivo” que não as ajuda a valorizar a escola e a criar um sentimento positivo em relação ao acto de aprender. As preocupações que reconheço na maior parte dos pais e outros educadores, resume-se à dificuldade de pensar estes “TPC” sem nunca perder a perspectiva das crianças.



Férias significa: período de descanso de uma actividade constante, como é o caso das aulas. Nesse sentido, para as crianças, como para os adultos, férias é o período em que devemos descansar da actividade que predominou no tempo de trabalho ou das aulas. Para as crianças mais pequenas, férias é sinónimo de poder brincar. Muitas vezes os educadores não deixam as crianças à vontade nas suas brincadeiras, tecendo até considerações sobre a sua importância, para depois lhes proporem outras actividades, como os “TPC”, consideradas mais relevantes para a sua formação. Neste sentido, o brincar aparece aos olhos destes adultos como secundário e pouco relevante. No entanto, a criança brinca para descobrir o mundo, as pessoas e as coisas que estão à sua volta. Brincar faz parte da cultura da infância, é a condição da aprendizagem e garante a energia que dará às crianças a possibilidade de continuar o trabalho escolar quando o novo ano lectivo começar. Nesse sentido, o desafio que deixamos aqui para estas férias é: deixar as crianças brincar.



*Maria José Araújo é Animadora em Escolas do 1º ciclo e em ATL, e autora das obras "Crianças Ocupadas" e "O Quê... Os Adultos não sabem?", Prime Books, 2009 e 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Em casa de ferreiro... previne-se como nas outras

Por Maria Moreira*



Não sou especialista em prevenção das dependências, mas trabalho com os dados nacionais e internacionais das drogas e das toxicodependências há mais de 15 anos. Ajudo a conceptualizar e acompanho estudos, recolho dados, analiso-os, comparo-os, escrevo relatórios, falo com os meios de comunicação social, e por isso tenho muita dificuldade de explicar aos meus amigos que, no que toca à prevenção dos consumos em minha casa, tenho provavelmente as mesmas dúvidas e os mesmos medos que todos os outros pais de adolescentes. O meu ‘conhecimento baseado em evidências científicas’, ‘as médias’, ‘as tendências’, ‘as prevalências’ e as ‘boas práticas’ de pouco me serviriam se achasse que apenas preciso de informação para preparar o meu filho adolescente para fazer escolhas saudáveis na vida.


Não há dúvida que a informação pode ser uma boa forma de começar uma conversa, a propósito de uma notícia, de qualquer coisa que aconteceu na escola. Porque apesar dos adolescentes ‘saberem tudo’ e nem sempre quererem a nossa opinião, porque ‘no tempo dos pais as coisas eram diferentes’, eles próprios têm a noção, ou a intuição, que nem sempre o ‘tudo que sabem’ está certo. É importante fazermos um esforço para nos mantermos informados e para estarmos particularmente atentos às afirmações que são, na realidade, perguntas:

Exemplo de afirmação/pergunta: ‘Mas se os jornais estão sempre a dizer que o consumo da droga aumentou é porque é normal consumir.’

Exemplo de resposta/início de conversa: ‘Normal? Se leres com atenção para lá do título vês que a maioria dos jovens da tua idade nunca sequer experimentou drogas.’

Exemplo de afirmação/pergunta: ‘Pois, mas as drogas novas não causam dependência.’

Exemplo de resposta/início de conversa: ‘E o risco de dependência é o único risco de uma droga? Quando se compra um comprimido a alguém, como é que sabes se o comprimido tem o que dizem que tem? E que outras substâncias poderá ter? E as pessoas ficarem expostas ao perigo de reacções adversas, de relações sexuais desprotegidas, de acidentes rodoviários, não são riscos tão importantes como o risco de causar dependência?’.

Exemplo de afirmação/pergunta: ‘Mas se consumir até já nem é ilegal.’

Exemplo de resposta/início de conversa: ‘Não é um crime mas continua a ser ilegal. Se alguém for apanhado com droga é identificado pela polícia e tem de se apresentar a uma Comissão especial que o avalia. Fica com o nome registado numa base de dados e a Comissão pode decidir aplicar multas ou castigos, como, por exemplo, um certo número de horas de trabalho comunitário.’

É claro que às vezes o que apetece mesmo é dizer que as ‘drogas são más porque sim’, mas é importante reconhecer que os discursos desse tipo não pegam com os nossos filhos e, se cairmos na tentação de os utilizar, podemos correr o risco de destruir a nossa própria credibilidade como fontes de informação dos nossos filhos.

Quando abordo este e outros assuntos sensíveis com o meu filho, faço questão de repetir para mim própria algumas evidências que me ajudam a encontrar com mais facilidade o tom da conversa: 1) que ele não é parvo; 2) que tem acesso fácil e imediato à informação e à desinformação (e que nem sempre é fácil distinguir entre as duas); 3) que ele só me conta o que quer (como eu aliás fazia quando tinha a idade dele) e 4) que, faça eu o que fizer, a decisão final pertence-lhe.


O que torna tudo mais difícil é que o verdadeiro trabalho de prevenção não é este. E quanto a isso, deixem-me partilhar a reacção de um colega, já há alguns anos, quando, em conversa acerca dos nossos filhos e das formas como eles tentam negociar a sua autonomia, exclamou.

‘O teu filho tem 14 anos? Então deixa-te de coisas! Ou já fizeste o que tinhas a fazer ou não é agora que vais começar.’

Amarga lembrança de que não é quando chega a adolescência que o nosso trabalho de prevenção começa.
O nosso contributo para a prevenção das dependências (e, sem pretender passar por perita na matéria, suspeito que o da maioria dos problemas relacionados com os comportamentos e os estilos de vida) começa no berço. Educar no princípio do respeito: respeito pelo corpo, por si próprio e pelos outros. Educar para os ajudar a assumir as responsabilidades das suas decisões. Educar na alegria de uma vida vivida de forma saudável, de corpo e mente.

E depois?
Depois é abrir o abraço e deixá-los ir. Porque a vida é deles, e as escolhas também.

* Maria Moreira é mãe, gestora de informação e sonhadora inveterada.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Dez conselhos para evitar afogamentos


O afogamento continua a ser a 2ª causa de morte acidental nas crianças, ultrapassada apenas pelas mortes em acidentes rodoviários. Desde 2002, mais de 150 crianças perderam a vida em Portugal por afogamento.

O afogamento na criança, ou acidente por submersão, é um acontecimento trágico, rápido e silencioso, que pode ocorrer em muito pouca água. As férias são períodos de grande risco. Tome nota destes conselhos da APSI para evitar os afogamentos:



10 Conselhos Rápidos para Evitar os Afogamentos de Crianças:


1. Perto da água, não perca as crianças de vista nem por um segundo.


2. Dificulte o acesso das crianças aos locais com água: vede ou cubra piscinas, lagos, tanques, poços e fossas.


3. Nunca deixe uma criança de 3 ou 4 anos sozinha na banheira durante o banho.


4. Despeje toda a água de baldes, alguidares e banheiras logo após a utilização.


5. Coloque sempre às crianças braçadeiras em águas paradas, transparentes e pouco profundas ou um colete salva-vidas em águas agitadas, turvas ou profundas.


6. Escolha praias e piscinas vigiadas e cumpra a sinalização.


7. Ensine as crianças a nadar, mas mantenha a vigilância.


8. Ensine as crianças a nunca irem nadar sozinhas e não mergulhar de cabeça sem conhecer bem a profundidade da água.


9. Aprenda a fazer reanimação cardio-respiratória, esse gesto pode salvar uma vida. Faça um curso de Primeiros Socorros!


10. Em férias, redobre a vigilância. O primeiro dia e o final da tarde são os momentos em que acontecem mais afogamentos.


Mais informação em: http://www.apsi.org.pt/

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Segredos

Por João Paulo Batalha*


O meu pai conta-me, eu não me lembro, da primeira vez que eu e os meus irmãos fomos a pé sozinhos para a escola. Não era fácil. Vivíamos junto à estrada marginal, em S. João do Estoril. Era à época uma das mais movimentadas do país, com todo o trânsito pendular da Linha, muitos anos antes das auto-estradas. O primeiro obstáculo, logo à nossa porta, era atravessar a estrada em segurança. Mais à frente era a linha do comboio. Coisas de responsabilidade para três miúdos da escola primária.


A minha mãe, sendo mãe, levava-nos e ia buscar-nos todos os dias, a pé mas com acompanhamento parental. E não concebia que isso mudasse. Um dia pediu ao meu pai que assegurasse o serviço. Conta-nos ele, com o justificado orgulho de quem viu confirmados os seus bons instintos, que logo à saída de casa nos perguntou se sabíamos o caminho. Dissemos que sim, claro, como crianças desejosas de conquistar o seu espaço no mundo. Lá nos largou, embora – ressalva dele – com o cuidado de nos seguir discretamente à distância, a garantir que não fazíamos asneiras. Não fizemos.


Esta precoce carta de alforria foi outorgada com uma condição: Não digam nada à mãe. Está claro que, mal voltámos da escola, a minha mãe foi cercada por três pintos orgulhosos a anunciar que tinham ido para a escola sozinhos. Houve discussão, mas a verdade é que desde essa altura (desde que me lembro, praticamente), passámos a ir sempre sozinhos para todo o lado.


Os miúdos têm uma incapacidade irremediável de guardar segredos. Não conseguem, pura e simplesmente. É uma incapacidade só comparável à sua disponibilidade para fazer promessas. Incluindo prometer guardar segredo. É sem dúvida das melhores coisas de se ser miúdo. Quero dizer-te uma coisa, prometes que guardas segredo? Juro! Logo a seguir, segredo? Nem vê-lo!

Isto não é desonesto. Pelo contrário, é a coisa mais honesta que existe. Uma criança promete o que lhe pedirmos. Não porque seja dúplice (isso vem depois, como vem para toda a gente), mas porque lhe pedimos – e porque lhe parece perfeitamente possível cumprir tudo o que promete, e por isso promete tudo o que lhe proponham. É aliás uma óptima maneira de se saber o que é ou não realizável neste mundo: basta pedi-lo a uma criança. Se ela não conseguir fazê-lo, é porque não pode ser feito.


Quando uma criança promete uma coisa e não a cumpre, a culpa é um pouco nossa. Claro que lhe ensinamos que não pode fazer promessas e não as cumprir. É a nossa obrigação. Com isso, inevitavelmente, ensinamos-lhe a ponderar, a hesitar (e até no limite, a mentir). Mas é mesmo assim que tem de ser, a transparência absoluta com que uma criança vive e pensa não é pura e simplesmente viável. A vida é feita de compromissos, constrói-se tanto de palavras como de silêncios, o que é muito pouco romântico, eu sei, mas é assim.

Dizem que se as crianças mandassem não havia guerras. Havia havia, acreditem. Os miúdos sabem ser cruéis. O que não havia era tretas. O que se calhar também não era mau.

*Formado em História, João Paulo Batalha é jornalista e fundador da Storymakers, uma empresa dedicada à produção de exposições, eventos e produtos culturais para crianças

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O quê?... Os Adultos não sabem?

Por Maria José Araújo*




"O Quê?... Os adultos não sabem?", o livro lançado ontem, dia 1 de Junho, tem algo de especial: é um livro para adultos escrito por crianças. Este é um discurso que tem o sentido inverso dos livros para crianças, que são escritos por adultos. Neste livro, as crianças tentam explicar, muito à sua maneira, que precisam que os deixem brincar. Que esse é também um direito que têm e que deve ser respeitado como direito fundamental que é. Por um lado é uma voz em contra-corrente num tempo em que a tendência para a sobre-ocupação e a hiper-programação das agendas diárias das crianças atinge níveis muito complicados, e por outro, mostra que para as crianças, brincar está presente em todas as situações de aprendizagem, mesmo as mais formais.



Este trabalho faz parte de um projecto de Educação Criativa desenvolvido ao longo de três anos com crianças do 1º ciclo do Ensino Básico da escola EBl/JI do Cerco do Porto (Agrupamento de Escolas do Cerco). Foi desenvolvido pelos alunos Ana Lima, Ana Rita, Ana Sofia Coelho, André Nelson, Bruna Costa, Bruno Bompastor, Catarina Sousa, Claúdia Gomes, Daniela Duarte, Denise Navarro, Frederico Amaral, Iara Moreira, Joana Vilarinho, João André, Miguel Fernandes, Nádia Costa, Pedro Alexandre Silva, Renata Mendes, Ricardo Ribeiro, Ruben Neves e Tiago Moura, que se iniciaram na escrita formal em 2007.



Para estas crianças, cujo sonho era fazer "um livro de capa dura", escrever um livro é brincar com o pensamento, comunicar por palavras e fazer desenhos. Foi assim que fizeram. Hoje estão emocionados e excitados com a apresentação da sua obra, o momento tão ansiosamente aguardado após tanto tempo de trabalho.



ARAÚJO, Maria José e MENDES Catarina (Org) (2010).
"O Quê?... Os Adultos não sabem?" Lisboa: Prime Books

terça-feira, 1 de junho de 2010

És melhor que eu e não tenho medo de o dizer

Nan Lawson. Aqui.

Eu não gostava muito de efemérides. Mas com o passar do tempo aprendi a encontrar-lhes utilidade. É que, o que parece tão óbvio, afinal não o é assim tanto e os “dias mundiais” de qualquer coisa sempre vão servindo, se não para outra coisa, para relembrar e reflectir.


Pense-se no dia de hoje, aplique-se nos outros dias todos.

É um bom lema que tenho procurado seguir.


No Dia Mundial da Criança, é urgente recordar a Convenção dos Direitos das Crianças.


Ninguém pode exercer ou reivindicar o exercício de direitos que desconhece ter.


É importante que as crianças saibam que um dia, há mais de 50 anos atrás, pessoas de vários países perceberam que as crianças são tão importantes para o futuro do mundo, que são tão valiosas e especiais, que se reuniram para deixar escrito a maneira como todos os meninos deviam ser tratados, num documento que todos os adultos deviam seguir.

É importante que as crianças saibam que sempre que, de forma mais ou menos subtil, atropelamos os seus Direitos básicos, somos nós que estamos errados e não eles. Que nós é que não estamos a ser bons o suficiente, ou inteligentes, ou pacientes, ou respeitadores. Que nós é que estamos a falhar. Não eles. Temos as nossas razões, muitas vezes, quase sempre, mas não deixamos de falhar. Mas não é justo, só porque o mundo é grande e eles são pequenos, que as nossas razões prevaleçam sempre.

Hoje vou substituir a história da hora de deitar por isto. E vou explicar-lhe que ela tem direito a todas estas coisas básicas e ainda outras. Que todas as crianças em todo o mundo têm estes direitos, mesmo nos países em que eles não são mais que uma miragem longínqua. Porque os adultos falham. Falham demasiado e são tão estupidos, tantas vezes, que preferem proteger os seus interesses imediatos do que o futuro, como se não fosse haver um amanhã e não fossem precisos novos homens e mulheres para o mundo continuar a avançar.

E, sabendo conscientemente que isto se vai virar contra mim um dia, possivelmente já amanhã ou mesmo 5 minutos depois, vou dizer-lhe com todas as letras:

As crianças são melhores que os adultos e quase sempre têm mais razão que eles.