Por Patrícia Lamúrias*
Gravidez não é doença. Não há grávida que não oiça a frase. Ao mínimo sinal de desconforto, ao simples desabafo sobre a vontade de nada fazer, à mais pequena hesitação sobre se deveria ou não executar alguma tarefa mais complicada, lá vem a frase batida: gravidez não é doença. Pois não. Gravidez não é doença, quer dizer, até é, mas ao contrário.
Eu explico: estar grávida é uma sensação estranha, ficamos expectantes sobre o que está a acontecer no nosso corpo, só conseguimos pensar naquilo, parece que mais nada no mundo tem importância. Não é assim que muita gente se sente quando está doente? Só que quando estamos grávidas tudo isto é por uma boa causa. Daí que seja doença, mas ao contrário. Em bom.
Porque estar grávida muda tudo. A cabeça depressa se perde em pensamentos sobre bebés minúsculos e indefesos que vão depender de nós e quase só de nós, roupinhas fofinhas, quartos cores de sugus, fraldas e cremes nunca antes vistos, mamas a deitar leite, noites que nunca mais vão ser iguais, o corpo a abrir-se e gritos de dor, a vida toda de pernas para o ar. E será que vai correr tudo bem? Será que eu vou estar à altura? Será que sou capaz? Será que é tão bom como dizem? Será que é tão mau como pintam? São milhões de perguntas (quase todas sem resposta) que vão e vêm todos os dias, a toda a hora, ao mesmo tempo que o corpo muda e dá sinais que nem sempre reconhecemos.
E isto é mau? Não. É óptimo. Maravilhoso. O maior desafio de uma vida. Mas seria melhor se nos pudéssemos concentrar ainda mais neste estado diferente de todos os outros. Não digo deixar tudo para trás e não fazer mais nada durante nove meses (se bem que até era bastante agradável), mas ter oportunidade de reduzir o horário de trabalho ou de ir para casa um mês ou dois antes da data prevista para o parto. É que ter um filho dá mesmo muito trabalho e, afinal, é um bem que estamos a fazer ao mundo. O mundo precisa de crianças!
Ter lugares nos transportes (depois de ter que pedir), deixarem-nos passar à frente na fila (ainda que com má cara) ou ter lugar para estacionar no shopping (quando não estão abusivamente ocupados) é muito útil mas não chega. Trabalhar com um bebé na barriga é complicado. Nem a cabeça nem o corpo ajudam. E ter um bebé nos braços sem ter pensado e amadurecido bem a ideia, sem ter descansado o suficiente, sem ter preparado toda a logística necessária também é complicado. Nada ajuda.
Há mulheres que conseguem fazer tudo. Não me admiro. Somos todas diferentes. E há quem goste e faça questão de dizer a toda a gente que quer trabalhar até ao dia do parto. Eu estive de baixa nos dois últimos meses de gravidez e foi o melhor que me podia ter acontecido. Tirando o susto inicial de que a minha bebé poderia nascer antes do tempo, foi óptimo. Praticamente não me podia mexer e mal saí de casa, mas era exactamente isso que eu estava a precisar. Concentrei-me em mim, nas mudanças. Ouvi o meu corpo. Senti a gravidez. E quando chegou a hora senti que estava mesmo pronta.
Eu sei que isto (para já) parece impossível. Que a discussão ainda está em ter uma licença de maternidade decente, em não se ser despedida por estar grávida. Mas, andei a pesquisar e, felizmente, não estou sozinha na luta. A União Europeia já lançou a discussão em 2009, com os seguintes argumentos: «proteger a mulher de qualquer pressão do empregador» para «evitar o risco de partos prematuros» (que, como se sabe, estão a aumentar), e «proteger a mulher da fadiga do trabalho e dos transportes».
A conversa não terá dado ainda grandes frutos, mas é um começo. Para alguns, que outros já vão bem adiantados, como a Suécia, que prevê uma licença pré-natal de oito semanas e possui um sistema de licença parental flexível que pode ser transferido para o pai da criança e ir até às 75 semanas. Lá chegaremos. Acredito.
Gravidez não é doença. Não há grávida que não oiça a frase. Ao mínimo sinal de desconforto, ao simples desabafo sobre a vontade de nada fazer, à mais pequena hesitação sobre se deveria ou não executar alguma tarefa mais complicada, lá vem a frase batida: gravidez não é doença. Pois não. Gravidez não é doença, quer dizer, até é, mas ao contrário.
Eu explico: estar grávida é uma sensação estranha, ficamos expectantes sobre o que está a acontecer no nosso corpo, só conseguimos pensar naquilo, parece que mais nada no mundo tem importância. Não é assim que muita gente se sente quando está doente? Só que quando estamos grávidas tudo isto é por uma boa causa. Daí que seja doença, mas ao contrário. Em bom.
Porque estar grávida muda tudo. A cabeça depressa se perde em pensamentos sobre bebés minúsculos e indefesos que vão depender de nós e quase só de nós, roupinhas fofinhas, quartos cores de sugus, fraldas e cremes nunca antes vistos, mamas a deitar leite, noites que nunca mais vão ser iguais, o corpo a abrir-se e gritos de dor, a vida toda de pernas para o ar. E será que vai correr tudo bem? Será que eu vou estar à altura? Será que sou capaz? Será que é tão bom como dizem? Será que é tão mau como pintam? São milhões de perguntas (quase todas sem resposta) que vão e vêm todos os dias, a toda a hora, ao mesmo tempo que o corpo muda e dá sinais que nem sempre reconhecemos.
E isto é mau? Não. É óptimo. Maravilhoso. O maior desafio de uma vida. Mas seria melhor se nos pudéssemos concentrar ainda mais neste estado diferente de todos os outros. Não digo deixar tudo para trás e não fazer mais nada durante nove meses (se bem que até era bastante agradável), mas ter oportunidade de reduzir o horário de trabalho ou de ir para casa um mês ou dois antes da data prevista para o parto. É que ter um filho dá mesmo muito trabalho e, afinal, é um bem que estamos a fazer ao mundo. O mundo precisa de crianças!
Ter lugares nos transportes (depois de ter que pedir), deixarem-nos passar à frente na fila (ainda que com má cara) ou ter lugar para estacionar no shopping (quando não estão abusivamente ocupados) é muito útil mas não chega. Trabalhar com um bebé na barriga é complicado. Nem a cabeça nem o corpo ajudam. E ter um bebé nos braços sem ter pensado e amadurecido bem a ideia, sem ter descansado o suficiente, sem ter preparado toda a logística necessária também é complicado. Nada ajuda.
Há mulheres que conseguem fazer tudo. Não me admiro. Somos todas diferentes. E há quem goste e faça questão de dizer a toda a gente que quer trabalhar até ao dia do parto. Eu estive de baixa nos dois últimos meses de gravidez e foi o melhor que me podia ter acontecido. Tirando o susto inicial de que a minha bebé poderia nascer antes do tempo, foi óptimo. Praticamente não me podia mexer e mal saí de casa, mas era exactamente isso que eu estava a precisar. Concentrei-me em mim, nas mudanças. Ouvi o meu corpo. Senti a gravidez. E quando chegou a hora senti que estava mesmo pronta.
Eu sei que isto (para já) parece impossível. Que a discussão ainda está em ter uma licença de maternidade decente, em não se ser despedida por estar grávida. Mas, andei a pesquisar e, felizmente, não estou sozinha na luta. A União Europeia já lançou a discussão em 2009, com os seguintes argumentos: «proteger a mulher de qualquer pressão do empregador» para «evitar o risco de partos prematuros» (que, como se sabe, estão a aumentar), e «proteger a mulher da fadiga do trabalho e dos transportes».
A conversa não terá dado ainda grandes frutos, mas é um começo. Para alguns, que outros já vão bem adiantados, como a Suécia, que prevê uma licença pré-natal de oito semanas e possui um sistema de licença parental flexível que pode ser transferido para o pai da criança e ir até às 75 semanas. Lá chegaremos. Acredito.
*Patrícia Lamúrias é mãe e jornalista na revista Pais e Filhos.
Excelente texto. Que mania de desdramatizar actualmente é verdade... haja equilíbrio por amor da Santa!
ResponderEliminarObrigada
Rita
É tudo uma questão de bom senso e equilibrio, de facto.
ResponderEliminarSe há mulheres para quem a gravidez, e os filhos são desculpa para tudo e para nada, também há aquelas que, estoicamente, ignoram as grandes barrigas e depois os filhos nas portas dos colégios, em beneficio de uma maravilhosa performance profissional.
A gravidez é, de facto um momento único. A sensação é unica e não se podem desperdiçar os momentos que são irrepetíveis.
Concordo com a ideia de parar e escutar o corpo e "curtir" aquele momento.
Pela minha parte, que tenho dois filhos e penso que já ficarei por aqui, tenho muita pena de não voltar a estra grávida e sentir tudo isso de novo. Como sou profissional liberal, não pude estar de baixa antes das gravidezes e trabalhei literalmente até aos dias dos partos, mas tentei sempre preservar aqueles momentos e apreciar, nem que fosse parar na rua, a caminho do metro, porque o bebe na barriga estava a dar umas panacadinhas deliciosas...
Belo texto! Estar grávida - e ser mãe - foi o momento mais feliz da minha vida e a melhor escolha que fiz até hoje. Mas enquanto encontrar pessoas que me dizem "estiveste 5 meses em casa! isso é que foram férias!" e continuam com a mesma opinião depois de eu explicar tudo o que implica ter um bebé acho que temos um longo caminho a percorrer...
ResponderEliminarMuito bom! É exactamente o que eu defendo: mulheres grávidas não deviam ser obrigadas a trabalhar, nem mães de crianças pequenas. Porque é tão extraordinariamente dificil concentramo-nos em qualquer outra coisa (o relatório para amanhã? Tá quase, é só ver aqui mais estas fraldinhas...), que chega a poder prejudicar o empregador. Mais honesto seria uma licença mais prolongada, e contratar alguém para executar esse trabalho durante esse período. Também estive de baixa durante os ultimos dois meses, e claro, tirando a angustia de ser porque o meu bebé não estava a crescer (devido ao stress no trabalho...) foi a melhor parte da gravidez. Dormir muito, comer bem, preparar o enxoval, é o que se devia pedir a uma grávida, em prol de bebés saudaveis, futuros cidadão mais produtivos. :-)
ResponderEliminarPor outro lado, se as mulheres pudessem ficar em casa com as crianças, poupar-se-ia nos "equipamentos pré-escolares", em baixas por doenças das crianças, e ganhar-se-ia muito mais... Custa muito fazer as contas, e concluir que se anda a trabalhar por 200€, ou menos, em muitos casos, porque todo o salário que se ganha vai para despesas relacionadas com... estar a trabalhar!!!! (aqui incluo creches, transportes, alimentação fora de casa, vestuário apropriado....) Mas tomar esta opção é mal visto, e quase impossivel (tantos anos a estudar e agora queres ficar em casa?????) ups, acho que já me alonguei...
Concordo plenamente. É uma confusão quando tentamos saber dos nossos direitos e de como as coisas funcionam. Fui mãe no dia 6 e no dia 10 já estavamos (eu, pai, e bebé) na segurança social a tratar das licenças de maternidade e paternidade. É que o prazo é muito curto - eu custa-me imenso a andar de carro, a sentar... e imagino quem fica ainda pior e que não consegue deslocar-se como fará? - e assim que saímos da maternidade temos logo uma lista de coisas para fazer. Eu acho que devia haver outra forma. Podiamos ter por exemplo, os formulários pré-preenchidos e enviá-los pela net ou por correio, mas a verdade é que ainda não chegamos a essa fase. Cerca de 1 hora depois estamos despachados. Depois é entregar tudo nos respectivos locais de trabalho. E hoje voltámos lá porque a licença do papá tinha ficado mal feita porque não nos tinham explicado que quem trabalha por turnos tem de trabalhar os turnos que calhem no fim de semana.
ResponderEliminarSabiam disto?
É tudo assim como dizes, e muito bem! Mas trabalhar até ao último dia de gravidez parece fazer parte das funções de super-mulher que é suposto, hoje, todas sermos. Tive duas gravidezes e sei bem a diferença entre ir do trabalho para o hospital e parar um mês antes do parto. Se estivéssemos mais atentas aos sinais do nosso corpo não teríamos dúvidas de que o tempo de fazer o ninho exige exclusividade.
ResponderEliminarAna Esteves
Era tão bom, não era? Eu passei a minha gravidez toda a sentir-me estranha por me sentir assim. Não estava doente mas também não estava boa para trabalhar tanto. Parei uma semana antes do parto e mesmo assim não parei completamente. Arrependi-me.
ResponderEliminarBelo texto, Patrícia!
ResponderEliminarSubscrevo inteiramente as ideias expostas, até porque eu tive a (in)felicidade de passar 4 meses de cama na 1ª gravidez e 6 meses em casa da 2ª. Claro que esta 2ª gravidez foi vivida em pleno para 'compensar' o que perdi na 1ª. E valeu bem a pena, apesar das constantes ameaças de parto pré-termo. Eu acrescentaria apenas que, durante a gravidez, há até um acréscimo de afazeres (consultas, análises, preparação/ginástica pré-parto, enxoval, procurar creche/ama, ...) que é quase impossível conciliar com uma agenda profissional preenchida.
Pode ser que a coisa melhore mais cedo do que possamos esperar, a avaliar pelo artigo da Visão desta semana que fala precisamente em estudos que prevêm fornecer dados concretos, já em 2012, sobre as implicações do estado de ânimo e de stress da grávida na vida intra-uterina do bebé e na sua vida futura. Há fortes indícios de que há uma relação directa entre ambas, agora só falta a evidência científica...
Depois cada uma poderá optar por aquilo que considerar melhor para si e para o seu bebé.
Fiquei com lágrimas nos olhos ao ler o texto. Estou grávida a caminho das 35 semanas e começo a desejar cada vez mais poder ir para casa. Não tenho um emprego exigente, nem estou sujeita a grande stress, mas tb n me da prazer... Sinto agora uma crescente necessidade de me concentrar em mim própria e na minha filha dentro de mim... e preparar-me (na medida do possível) para o que a vida será depois...
ResponderEliminarresumindo, o trabalho das 9 as 5 foi uma invenção muito parva do ser humano...
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